Os muitos talentos de David Duchovny, para além de ‘Arquivo X’
Ator lança novo livro de suspense que atesta sua versatilidade
Descolar a imagem de David Duchovny da série Arquivo X é uma tarefa difícil. Em 1993, aos 33 anos, o ator americano vestiu o figurino do investigador Fox Mulder e nele ficou por onze temporadas, que somam mais de 200 episódios. Ao lado de Gillian Anderson, intérprete de Dana Scully, compôs uma das duplas mais memoráveis da história da televisão: os dois agentes tentavam desvendar eventos misteriosos — e de origem extraterrestre. Duchovny, porém, é uma persona tão interessante e versátil que não merece ser eternamente reduzido à série de sucesso. Uma dessas facetas ganhou recentemente um novo capítulo: hoje, aos 63 anos, ele se impõe como autor de romances — e seu quarto e mais novo título, o suspense O Reservatório (Buzz Editora), acabou de chegar ao Brasil.
Escrito logo após o isolamento da pandemia, a obra acompanha os devaneios do protagonista, um homem enclausurado em seu apartamento de frente para o Central Park, como o do próprio autor, que enxerga uma luz piscante por entre as árvores. Convencido de que aquilo é uma tentativa de comunicação, ele busca quem pode estar por trás da lanterna — enquanto enfrenta também a possibilidade de estar perdendo a cabeça. “Demorei para começar a escrever por causa da ansiedade que minha bagagem me trazia”, disse ele em entrevista a VEJA (leia mais abaixo).
A autocobrança tinha lá suas razões. Antes de ser um astro da TV, Duchovny teve uma educação primorosa: ele foi colega de classe de John Kennedy Jr. em uma pomposa escola particular nova-iorquina, e estudou literatura inglesa em Princeton e Yale, duas das mais respeitadas universidades de elite dos Estados Unidos. Fã de Thomas Mann, Jorge Luis Borges e Franz Kafka, o ator-escritor deixa transparecer sem receios as influências luxuosas em sua escrita: seu novo livro tem uma narrativa elegante e engenhosa, sem oferecer resoluções fáceis.
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O astro soma outros ofícios em seu currículo: ele é também roteirista, diretor e cantor — seu primeiro disco, Hell or Highwater, de 2015, emula Bruce Springsteen. Lá fora, acabou de estrelar a elogiada comédia romântica O que Acontece Depois, com Meg Ryan. Para o astro de Arquivo X, tamanha versatilidade não é nenhum mistério.
“Não faço livros políticos”
Em entrevista a VEJA, David Duchovny falou sobre sua relação com a literatura e seu passado acadêmico.
O senhor atribuiria esse seu fascínio pelo mistério à experiência em Arquivo X? A ficção científica não faz meu gênero, apesar de ter contribuído com o roteiro de Arquivo X. Em O Reservatório, quis utilizar um narrador não confiável para explorar a batalha entre espiritualidade e ciência, reacendida pela discussão em torno da pandemia.
Qual sua intenção ao ambientar a trama em um episódio real e histórico tão recente? O livro não é sobre a pandemia, mas sim um olhar mais humano sobre a fragilidade da civilização. Uma ameaça de saúde pública global muda o jeito como você olha o próximo, afinal, qualquer um pode ser hospedeiro do mal que pode matá-lo. Não faço livros políticos, nem tenho respostas fáceis. Eu quis capturar a essência de um momento.
Muitos se surpreendem com seu histórico acadêmico. Como ele influenciou sua carreira? Demorei para começar a escrever por causa da ansiedade que minha bagagem trazia. Eventualmente, percebi que é como a Torre das Canções, de Leonard Cohen: existe um edifício de grandes livros, e estou conversando com eles, sem tentar destruí-los ou escondê-los.
Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867
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