1 – OS TESTAMENTOS,
de Margaret Atwood
(tradução de Simone Campos; Rocco; 448 páginas, 54,90 reais e 32,90 reais na versão digital)
Quando lançou O Conto da Aia, em 1985, a canadense Margaret Atwood, agora com 80 anos, refletia medos difusos que rondavam um mundo pós-Guerra Fria. Mas a distopia criada por ela — em que fundamentalistas cristãos derrubam o governo americano e fundam a terrível República de Gilead — encontrou corpo e alma nos dias de hoje, com a escalada de populistas religiosos no mundo. Como um segundo alerta (e na onda do sucesso da série The Handmaid’s Tale, inspirada em sua obra), Margaret lançou em 2019 a sequência do livro. Os Testamentos, premiado com o Booker Prize, se passa quinze anos depois e é narrado por três mulheres. Duas são adolescentes vindas de realidades contrastantes que se cruzam: uma foi criada sob a repressão de Gilead e a outra, na liberdade do Canadá. O terceiro eixo é Tia Lydia, conhecida vilã da história. Ela relembra o passado e como chegou ao posto de algoz das aias, moças tidas como pecadoras, usadas como escravas para procriação. A autora pincela dilemas atemporais, porém em voga, como o drama dos refugiados e a perseguição às minorias.
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2 – SEROTONINA,
de Michel Houellebecq
(tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht; Alfaguara; 240 páginas; 59,90 reais e 39,90 reais na versão digital)
Na consciência coletiva da França, seu país de origem, Michel Houellebecq faz o papel de um bode na sala. Enquanto a elite intelectual celebra o multiculturalismo e os laços com a União Europeia, ele não se cansa de expor o mal-estar social e a hipocrisia da correção política. Houellebecq atingiu o ápice de seu cinismo incendiário com Submissão, de 2015, em que imagina os franceses governados por fundamentalistas islâmicos. Pouco antes do lançamento, o autor foi capa do semanário Charlie Hebdo, que viria a ser atacado por terroristas do islã. Com Serotonina, Houellebecq se reafirmou como profeta do caos. O livro saiu em janeiro de 2019, quando os protestos dos coletes amarelos já abalavam o país. Foi escrito antes das manifestações, entretanto logo se viu na obra um caráter premonitório, com aproximações entre as revoltas dos agricultores da trama e o movimento real. O protagonista, Florent-Claude Labrouste, é um consultor do Ministério da Agricultura que preenche seu vazio com o uso de um antidepressivo que aumenta os níveis de serotonina no organismo.
3 – PRÓLOGO, ATO, EPÍLOGO,
de Fernanda Montenegro
(Companhia das Letras; 392 páginas; 49,90 reais e 29,90 reais na versão digital)
Aos 90 anos, Fernanda Montenegro é uma afiada testemunha da história do Brasil. Seu livro de memórias se inicia em 1897, quando seus antepassados vieram para o país — do lado paterno, lavradores portugueses; do lado materno, pastores sardos. A narrativa chega até os dias atuais — embora Fernanda não vocalize, aqui, as críticas à situação do Brasil que recentemente a puseram na mira dos ataques de bolsonaristas. Enquanto desfia episódios da família, ela detalha o fundo histórico e político de cada época, lado a lado com a evolução do teatro, do cinema e da TV nacionais. Pelo entusiasmo com que fala do palco, percebe-se a paixão maior da atriz. Foi nas coxias que ela começou o namoro com o companheiro de uma vida, Fernando Torres, morto em 2008. Foi ali também que ajudou a moldar a dramaturgia do país: O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, nasceu pela insistência de Fernanda, que continuamente cobrava o texto novo que o autor havia prometido para a companhia Teatro dos Sete, cofundada por ela e pelo marido.
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Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667
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