O que explica a misteriosa resistência do Fleetwood Mac nas paradas
Álbum 'Rumours', lançado há 50 anos, se mantém pela 926ª semana consecutiva na parada de vinis mais vendidos no Reino Unido

Uma coleção minimamente respeitável de vinis deve, necessariamente, incluir alguns álbuns clássicos. Títulos como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, Thriller, do Michael Jackson, London Calling, do The Clash, The Velvet Underground & Nico, do The Velvet Underground, e The Freewheelin’, do Bob Dylan, por exemplo, são indispensáveis. E, claro, aí tem lugar de honra Rumours, do Fleetwood Mac. Mas, curiosamente, o disco de 1972 – que completou neste mês 50 anos de seu lançamento – é o único de todos esses trabalhos que se mantém entre os mais vendidos ainda hoje. Uma conjugação de fatores explica essa notável resiliência.
Rumours é um clássico absoluto na peculiar seara dos discos que falam das agruras do fim de relacionamentos. Foi gravado em meio às separações de integrantes casados entre si, e o clima pungente e as letras traduzem seus sentimentos com uma franqueza talvez nunca atingida em outro álbum de rock. A dor-de-cotovelo, claro, nunca sai de moda na música. Mas só esse motivo não explica todo o fenômeno.
Mesmo depois de 50 anos de seu lançamento, o disco continua a vender novas cópias – e o que impulsiona esse desempenho são as vendas em vinil. O sucesso de Rumours nesse velho formato ocorre dentro de um quadro mais amplo de alta de consumo dos velhos bolachões na última década.
As redes sociais também deram seu empurrão. A faixa Dreams, por exemplo, viralizou em 2020 quando o skatista Nathan Apodaca postou um vídeo no TikTok ouvindo a música enquanto andava de skate e bebia suco de cranberry. Na sequência, ídolos pop como Miley Cyrus (que fez um cover de Stevie Nicks recentemente) e Harry Styles (que não cansa de declarar sua paixão por Nicks e Fleetwood Mac nas redes) ajudaram a popularizar a banda entre os mais jovens.
De acordo com uma reportagem do jornal britânico The Guardian, Rumours vendeu 34 593 cópias em vinil em 2021, perdendo apenas para o fenômeno Adele e para o álbum que recentemente marcou o retorno dos suecos do Abba. Superando, assim, outros grandes vendedores de vinis nos tempos modernos, como Ed Sheeran e Lana Del Rey. Os números mantêm Rumours pela 926ª semana consecutiva na parada de álbuns do Reino Unido, ocupando atualmente a 29ª posição. Na última semana, nos Estados Unidos, foi divulgado um feito ainda mais impressionante: em janeiro, o disco vendeu 6 000 cópias, ocupando a primeira posição no mercado de vinis.
A verdade é que nenhum desses fatores conjunturais suplanta um fato indiscutível: Rumours é um grande álbum. Suas qualidades vão desde a estupenda foto de capa, que traduz com elegância o espírito hippie da época e é perfeita para exibir numa coleção, até a impressionante limpidez sonora que a gravação ainda ostenta, passados cinquenta anos. Os rumores sobre o sucesso de Rumours não são, definitivamente, exagerados.