‘O Outro Lado do Paraíso’, a novela da volta dos que não foram
A trama de Walcyr carrasco foi recheada de personagens que morreram -- só que não --, mas conseguiram driblar a ida ao além
O Outro Lado do Paraíso foi a novela da “volta dos que não foram”. Foi um tal de morto-que-não-estava-morto que a novela podia, muito bem, se passar no paraíso mesmo. Nos últimos capítulos, o garimpeiro sexy Mariano (Juliano Cazarré) saiu da cova para ser salvo pela Grande Mãe do quilombo (Zezé Motta) — o último de uma série de espetaculares dribles na Dona Morte. Na reta final do folhetim de Walcyr Carrasco, relembre os personagens que morreram, só que não, ao longo da trama.
Mariano
Mariano foi outra vítima de Sophia-mãos-de-tesoura (Marieta Severo). Tão pato quanto o Rato (César Ferrario), Laerte (Raphael Vianna) e Vanessa (Fernanda Nizzato), o garimpeiro caiu no mesmíssimo erro que vitimou os outros três personagens: chantagear Sophia. Pela língua grande de Dona Caetana (Laura Cardoso), Mariano descobriu que a patroa havia matado não só os colegas de Pedra Santa, mas também um ricaço fazendeiro anos e anos atrás, quando a megera trabalhava como quenga do exército de Caetana. A cafetina ainda fez a gentileza de ligar os pontos para o garimpeiro: todos morreram de tesouradas, logo após descobrirem o passado cabuloso de Sophia. A própria octogenária assumiu que revelou os podres da rainha das esmeraldas para Laerte, que os contou para Vanessa, que contou para Rato. Subestimando a ex-amante, Mariano foi confrontá-la, e acabou picotado no tórax, vomitou sangue e foi despejado em uma vala por Zé Vitor. No entanto, eis que o garimpeiro ressurgiu, vivinho da silva, aos cuidados da Grande Mãe do Quilombo — a mesma que desempenhou outros milagres na trama, como ajudar o médico gay Samuel a manter um relacionamento heterossexual por anos.
Clara
Como toda boa mocinha, Clara sofreu muito nas mãos de Sophia antes de perceber que estava levando um baile da vilã. Sob a desculpa de passar um fim de semana no spa, a mãe de Gael (Sérgio Gizé) conseguiu trancafiar a protagonista em um hospício, onde ela passou absurdos dez anos. Quando Clara achou que era resgatada por Renato (Rafael Cardoso), foi arremessada ao mar a bordo de de um caixão de madeira. De alguma forma, ela conseguiu escapar. Em um retorno triunfal à sociedade de Palmas, Clara, agora milionária, soltou o bordão: “É muito bom está de volta”, que todos os mortos da Carochinha poderiam tomar de empréstimo.
Josafá
Depois que a neta, Clara, desapareceu, seu Josafá (Lima Duarte) afogou as mágoas na bebida. Ele bebeu tanto que seu fígado entrou em colapso. Mas, em vez de atender aos apelos do falso bonzinho Dr. Renato, o caminhoneiro se recusou a deixar o casebre de Dona Mercedes (Fernanda Montenegro) para procurar um hospital. Em muito pouco tempo, a Dona Morte bateu na porta de Josafá — literalmente. Mas quem a recebeu foi a poderosa Mercedes, que já na soleira da porta fechou um acordo com a entidade: ela dividiria o tempo de vida que ainda lhe restava com Josafá. E o mais absurdo: Dona Morte aceitou a proposta.
Renan
O retorno de Renan (Marcelo Novaes) talvez seja o caso mais sem pé nem cabeça da trama. O empresário rolou um lance de escadas, bateu em uma mesa de vidro, agonizou sobre o próprio sangue e ainda foi examinado por um detetive, que não encontrou seu pulso — uma morte sem margem para retorno. Mas, como um messias, Renan voltou, sem qualquer sequela ou sinal trágico, exceto pelo fato de ter ficado… pobre.
Beth
Durante anos a fio, Beth (Gloria Pires) se culpou pela morte de Renan. A ex-cafetina foi convencida pelo sogro, Nathanael (Juca de Oliveira), de que tinha sido a responsável pela queda do empresário, e à sombra da condenação da justiça e da sociedade, Beth topou forjar a própria morte e, pior, deixar a filha pequena acreditar que ela estava morta. Do iate que partiu da ilha que estava com a família, a esposa de Henrique (Emílio de Mello) pulou para uma lancha, enquanto a outra embarcação explodia, fazendo todos acreditaram que foi vítima do acidente. Eis que, 10 anos mais tarde, Beth — agora Duda — foi acusada de assassinar Laerte, segurança do bordel que ela era dona. E, pelas mãos do destino (ou, no caso, de Walcyr Carrasco), acabou defendida no tribunal pela filha Adriana (Julia Dalavia), que demorou uma leva de capítulos para reconhecer a própria mãe.