O mundo é aqui e agora
Coleção Leituras Rápidas, da Amazon, mescla oralidade, memórias e história
Durante muito tempo, a história oral era tida como o patinho feio da literatura, ao conceder voz e lugar ao que anda nas mentes e nas bocas, sem o necessário lustro acadêmico. O tom da prosa mudou com o Nobel entregue à escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, em 2015. Ao conceder a premiação para Svetlana, a Academia Sueca explicou a motivação central, ao atribuir a ela a criação de um novo gênero, “uma história das emoções, uma colagem de vozes humanas de cuidadosa composição”, registradas em entrevistas. São imperdíveis Vozes de Tchernóbil, de 1997, relato da tragédia nuclear ucraniana, e O Fim do Homem Soviético, de 2013, em torno dos derradeiros dias de Mikhail Gorbachev e a ascensão de Boris Iéltsin. Some-se à relevância desse tipo de escrita – que põe as lembranças no centro das atenções – com a urgência dos tempos atuais, em que tudo é para ontem, e eis a fórmula fascinante de uma coleção recém lançada pela Amazon no Brasil – Leituras Rápidas.
Fazem parte do pacote inicial, com 13 volumes, obras como Oito Dias na Coreia do Norte – Vol. 1: os Bastidores de um Jornalista em Viagem pelo País Mais Fechado do Mundo, de Tiago Maranhão; Se Saudade Matasse…, de Gabriel, o Pensador, um belo relato em torno da vida firme e comovente do avô; e Jasmin, de Mônica Cristina, uma aventura romântica no tempo do Bug do Milênio, em 1999. Para Ricardo Perez, líder de gestão de livros da Amazon brasileira, “o projeto nasceu da ideia de oferecer um conteúdo de qualidade para quem busca uma leitura rápida em meio à correria do dia-a-dia; o formato dos textos curtos atende tanto um público que já lê e quer novas opções quanto as pessoas que desejam começar a desenvolver o hábito da leitura”.
Que fique claro: a rapidez da leitura não pressupõe superficialidade, ao contrário. O relato de Tiago Maranhão a respeito da Coreia do Norte tem o peso de um compêndio histórico, é uma pequena joia. Em setembro de 2014, época em que vivia no Japão e era correspondente da TV Globo e do SporTV, Maranhão conseguiu autorização para gravar um documentário sobre o esporte norte-coreano. O que ele exibiu, com ajuda do produtor e do cinegrafista que o acompanhou, no Esporte Espetacular e no programa SporTV Repórter Especial, foi extraordinário e raro – e que o que ele agora contra em Leituras Rápidas é um fascinante passeio pelos bastidores de um canto do mundo enigmático, desconhecido, enclausurado. Trata-se, enfim, da refinada mistura de jornalismo de primeira com a história oral – e, nesse casamento, Maranhão, e boa parte de seus pares na lista da Amazon, dão as mãos ao estilo celebrado por Svetlana Aleksiévitch. Chegam a profundezas do conhecimento com intimidade e humor. Talvez seja o modo mais coerente, hoje, de chegar ao conhecimento em tempo de tanta desinformação.
Os livros de Leituras Rápidas podem ser lidos em qualquer dispositivo com o aplicativo gratuito de Kindle para desktop, smartphones e tablets iOS e Android, além dos e-readers Kindle. As obras da coleção serão publicadas por meio do Kindle Direct Publishing (KDP), a ferramenta de autopublicação da Amazon. Todas os volumes estarão disponíveis para assinantes do Kindle Unlimited. Parte do conteúdo também estará disponível para assinantes Prime. Para os demais compradores, os eBooks de coleção Leituras Rápidas podem ser adquiridos individualmente por 5,99 reais.
Cabe, para dar um gostinho do que é oferecido, um pequeno trecho de Oito Dias na Coreia do Norte:
“E foi assim, portanto, que tínhamos chegado até ali. Segurando nas mãos um buquê de flores de plástico de 10 dólares, diante das estátuas de 22 metros de altura de dois ditadores, Kim Il-sung, representado vestindo um sobretudo sobre terno e gravata, apontando com a mão direita para o horizonte, ao lado de Kim Jong-il, com uma jaqueta mais esportiva, mão esquerda na cintura, observando sorridente o futuro indicado pelo pai. Apesar do conflito interno em prestar aquela homenagem protocolar a duas figuras tão controversas, para usar um eufemismo, depositei as flores e fiz a reverência, conforme instruído pelos guias. Aquele ritual seria repetido todos os dias , às vezes mais de uma vez, aos pés de outras imagens e estátuas dos líderes, ao passo que me negar a depositar as flores seria visto como uma ofensa e comprometeria a dinâmica da viagem. Por isso, achei mais razoável seguir o protocolo, mesmo a contragosto”.