O caso dos zumbis nazistas
Produzido por J.J. Abrams, o vigoroso 'Operação Overlord' é uma espécie de híbrido de 'O Resgate do Soldado Ryan' e 'A Noite dos Mortos-Vivos'

Os paraquedistas têm uma missão crucial: um pequeno grupo será despejado num vilarejo francês para destruir uma torre de comunicação das forças alemãs e assim aumentar um pouco a precária segurança dos contingentes aliados que vão desembarcar no dia seguinte, 6 de junho de 1944, nas praias da Normandia. Sob artilharia intensa, só uns poucos homens chegam vivos ao objetivo — o caladão cabo Ford (Wyatt Russell) mais quatro soldados, entre os quais o sereno Boyce (Jovan Adepo). Escondidos na casa de uma jovem integrante da Resistência (Mathilde Ollivier), eles percebem que algo estranho está acontecendo: liderados por um oficial sádico (Pilou Asbaek), os nazistas andam superando sua cota de experimentos depravados e vêm fabricando supersoldados a partir de cadáveres. É assim, como um encontro entre O Resgate do Soldado Ryan e A Noite dos Mortos-Vivos, que se desenrola o vigoroso e benfeito Operação Overlord (Overlord, Estados Unidos, 2018), do diretor australiano Julius Avery, que o produtor J.J. Abrams foi buscar nas fileiras do curta-metragismo.
Entre os inúmeros subgêneros (e bota “sub” nisso) do cinema B, a nazisploitation é um dos mais fascinantes — uma derivação destrambelhada, sensacionalista e lúrida dos filmes de propaganda da II Guerra Mundial, com seus pérfidos vilões nazistas. Se, nas suas origens, a nazisploitation quase sempre foi casada à sexploitation (os diretores dos anos 70 divertiram-se à beça fazendo coisas como A Última Orgia do III Reich e Ilsa, a Guardiã Perversa da S.S.), agora é ao terror que ela se mistura, em enredos como Zumbis na Neve (2009), Nazistas no Centro da Terra (2012) e o ainda inédito Nazi Overlord. (“Overlord” era o codinome do Dia D, o desembarque na Normandia.) Operação Overlord, já em cartaz no país, é o expoente dessa corrente: admite-se absurdo, mas é feito com seriedade (nos seus termos) e raça — não pura, mas orgulhosamente híbrida.
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608