
“Eu nunca sonhei em ser outra pessoa”, diz Capitão América, personagem de Peter Fonda, num momento antológico de Easy Rider — Sem Destino, filme de 1969 que vendeu a cultura hippie ao mundo. O ator não possuía o talento do pai, Henry Fonda, patrimônio do cinema americano. Tampouco era carismático e combativo como sua irmã mais velha, Jane. Apesar da ausência de grandes ambições, contudo, a participação em Sem Destino transformou Peter em herói de uma obra-prima da contracultura. Escrito e protagonizado por ele e por Dennis Hopper (também diretor), o filme sintetiza as tensões dos Estados Unidos nos anos 60 por meio da viagem dos motoqueiros Capitão América (Fonda) e Bucky (Hopper) por um país abalado pela Guerra do Vietnã e no apogeu do flower power.
O ator teve infância problemática. Na vida real, seu pai passava longe da figura terna que interpretava nas telas — era distante e cruel, revelaria Peter mais tarde. A mãe, Frances Ford Seymour, suicidou-se quando ele tinha 10 anos — e os irmãos Fonda passaram a viver no Estado de Nebraska com uma tia. O próprio Peter flertou com a morte. Ele se deu um tiro no estômago aos 11 anos. A quase tragédia motivou John Lennon a criar o verso de abertura de She Said, dos Beatles, inspirado no que o ator lhe teria dito numa viagem de LSD: “Eu sei como é estar morto”.
A boa-pinta, a princípio, credenciou Peter a papéis de galã. Posteriormente, ele fez produções mais experimentais, como The Trip (1967), de Roger Corman. Com O Ouro de Ulisses (1997), veio a única indicação ao Oscar de melhor ator. Embora continuasse trabalhando com afinco, ele nunca repetiu o êxito de Easy Rider. Morreu em 16 de agosto, aos 79 anos, de câncer no pulmão, em Los Angeles.
Publicado em VEJA de 28 de agosto de 2019, edição nº 2649