Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

O adeus à mamãe foi cruel, lembra Beth Goulart

A atriz, de 59 anos, fala sobre a perda repentina da mãe, Nicette Bruno, para a Covid-19

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h25 - Publicado em 15 jan 2021, 06h00
Beth Goulart
(Arquivo Pessoal/.)

Há quase um ano temos aprendido diariamente sobre o que é a Covid-19. Mas, na prática, ninguém consegue se preparar para a perda de uma pessoa amada de um jeito tão rápido como o provocado pela doença. Entre o diagnóstico e a despedida da mamãe, foram apenas 21 dias. O adeus foi cruel. A ausência ainda é muito forte. Eu me solidarizo com as pessoas que sofreram perdas para esse vírus. Posso dizer que a ferida aos poucos está cicatrizando, pois me alimento das boas memórias e da fé que minha mãe me ensinou a ter. Ela era uma mulher positiva, uma fonte inesgotável de alegria. Meu pai (o ator Paulo Goulart) dizia que todo mundo nasceu chorando, mas que a Nicette nasceu sorrindo.

Fizemos tudo para proteger minha mãe. Ela era uma “tempestade perfeita”, pois, além de ter 87 anos, sofria de diabetes e já havia passado por um procedimento cardíaco. Sabíamos que uma pessoa assim, se pegasse a doença, poderia sofrer mais. Por isso, ela ficou isolada em casa, no Rio de Janeiro. Até que, no fim do ano, recebeu a visita de um parente de outra cidade, que não sabia, mas estava infectado. É uma situação delicada. Como recusar a visita de alguém querido que tem saudade? Como dizer não para um afeto e um carinho? É muito difícil. Logo depois da visita, no dia seguinte, esse familiar, de quem preferimos não revelar a identidade, descobriu que estava doente e nos avisou. Eu não estava no dia da visita, então não fui infectada. Mas quatro pessoas que estavam ali foram — sendo a situação mais grave a da minha mãe. Embora eu fique triste por tudo, não cabe a mim julgar. Oro por esse parente, e para que tudo que ocorreu seja ferramenta de aprendizado.

No início, achamos que a mamãe estava assintomática. Demorou uns cinco dias entre o teste positivo e a chegada dos sintomas. Logo surgiu a febre e médicos da família passaram a acompanhá-la de perto. Começamos o tratamento com antibióticos em casa, até que a internação se mostrou necessária. Ela ficou por três ou quatro dias em uma unidade semi-intensiva, com uma máscara respiratória não invasiva. É desse momento a última imagem que guardo dela, quando mamãe sorriu e me deu um tchauzinho de longe. Depois desse dia, ela foi para o centro de terapia intensiva (CTI), até ser intubada. É uma doença muito cruel, pois isola o paciente e isola a família. Um não tem acesso ao outro. Não podemos conversar, dar um carinho. É difícil, como família, vivenciar o dia a dia de uma pessoa com Covid-19. Foi por isso que dei início a uma campanha de oração nas redes sociais. Para que ela ficasse fortalecida, assim como nós, que estávamos longe.

No final, quando ela faleceu, entramos no quarto, totalmente paramentados, e fizemos nossa última oração de despedida. A falta de um velório normal é outra tristeza provocada por essa doença. Por isso me dói ver as imagens de fim de ano, com praias e bares lotados. É importante que as pessoas, especialmente os mais jovens que acham que estão protegidos, tenham cuidado. Que não pensem só em si mesmos, mas no próximo. Você pode voltar para casa e levar o vírus para quem ama. Tome cuidado. Aprenda a cuidar de você e do outro. Esse vírus veio nos ensinar a ser menos egoístas. Sabemos que ninguém transmite um vírus para o outro por vontade própria. Por isso, prefiro não apontar o dedo e julgar ninguém, pois a consciência faz isso por si só. Se for visitar alguém, tenha cuidado para não pôr essa pessoa em risco.

Continua após a publicidade

Espero que a partida da minha mãe sirva para um propósito maior. Que famílias despertem para a necessidade de cuidar uns dos outros. A Nicette foi um símbolo de amor, de alegria, de união e de fraternidade. Uma artista maravilhosa que, agora, levou sua arte para mais perto de Deus.

Beth Goulart em depoimento dado a Raquel Carneiro

Publicado em VEJA de 20 de janeiro de 2021, edição nº 2721

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.