Novo ‘Trapalhões’ não tem nada de novo – nem de engraçado
Remake do seriado que fez sucesso por quase vinte anos na Globo estreou nesta segunda-feira com piadas repetidas
Em determinado momento do primeiro episódio do remake de Os Trapalhões, exibido nesta segunda-feira no canal pago Viva, Dedé Santana alerta Didi (Renato Aragão): “Cuidado com o que você vai falar, os tempos são outros”. A advertência era uma clara alusão ao fato de que, como já amplamente divulgado na imprensa, essa versão da trupe de comédia estaria atenta ao politicamente correto e não faria piadas sobre minorias. A ausência desse tipo de humor, que reinou no período em que o seriado original foi ao ar, entre 1977 e 1995, porém, não foi o que tornou intragável a estreia. Foi a ausência de qualquer humor.
As piadas feitas já foram vistas por cerca de três décadas pelo espectador brasileiro, seja no Trapalhões original ou na série A Turma do Didi, que Renato Aragão apresentou na Globo entre 1998 e 2010. De tão batidas que são, a tarefa de arrancar até mesmo um sorriso amarelo do público se torna árdua. O esquete do valentão que entra em um bar quebrando tudo e acaba envenenado depois de roubar a bebida de um Didi macambúzio foi repetida no episódio, com a única diferença que, desta vez, o tristonho era Didico (Lucas Veloso), uma releitura do personagem de Aragão.
Os novos personagens não são nada novos. Didico é uma versão decalcada de Didi. Dedeco (Bruno Gissoni) é o Dedé do século 21. Mussa (Mumuzinho) é o novo Mussum. E Zaca (Gui Santana), para completar a trupe, é o Zacarias repaginado. Os atores apenas repetem os trejeitos que foram cultivados por quase vinte anos pelos intérpretes originais e que estão guardados na memória afetiva do espectador. Estão lá o jeito tão particular de falar de Mussum, trocando o final das palavras por “is” ou “évis”, assim como a risadinha e as caretas de Zacarias. Didi e Dedé aparecem de vez em quando, com algumas participações, como para dar legitimidade à nova versão.
As piadas são antigas – poderiam ser feitas agora, em 2017, ou quarenta anos atrás, quando Trapalhões estreou. Os personagens são igualmente reprisados. É difícil entender por que o canal Viva e a Globo, que deve exibir o remake em setembro, resolveram investir nessa releitura. O programa, muito provavelmente, não vai conquistar um público novo, jovem – que quase nem assiste mais à televisão tradicional. O seriado tampouco vai agradar inteiramente a quem já era fã dos Trapalhões: esse público, certamente, iria preferir rever a série original.