‘Notei a pressão que coloco sobre mim’, diz Shawn Mendes sobre show em SP
Cantor que lançou álbum nesta sexta-feira conta que assistir imagens de show cancelado em documetário da Netflix foi momento de reflexão

No dia 30 de novembro de 2019, fãs ansiosos que aguardavam a abertura dos portões do estádio Allianz Park, em São Paulo, receberam a notícia de que o show do canadense Shawn Mendes, que aconteceria dali a algumas horas, estava cancelado. Famoso entre o público jovem, dono de um charme juvenil e de um açucarado pop romântico, o cantor foi diagnosticado com uma laringite aguda. Caso se apresentasse, poderia acabar com danos irreversíveis nas cordas vocais, conforme informou o comunicado compartilhado no Instagram. Pouco depois, as redes sociais foram tomadas por imagens de Shawn sozinho nas arquibancadas do estádio, chorando pelo cancelamento. O momento é o auge dramático do documentário Shawn Mendes: In Wonder, disponível na Netflix.
Dirigida por Grant Singer, a produção constrói uma narrativa sobre a vida e a carreira do cantor de 22 anos, que lançou o seu quarto álbum de estúdio, Wonder, nesta sexta-feira, 4. Talvez pela pouca idade do protagonista, ou pela busca de identificação com o público, o filme da plataforma de streaming foca em mostrar Mendes como um jovem comum, com uma vida um tanto incomum — de uma carona à irmã mais nova até a escola e cenas intermináveis ao lado da namorada, e também cantora, Camila Cabello, até arenas lotadas e muitas viagens de avião.
A cena do Brasil, nesse sentido, faz o papel de trazer uma pitada de drama para a narrativa, e mostrar que a vida artística do astro pop tem, veja só, algumas intempéries. No vídeo, é possível ver Shawn chorando na arquibancada enquanto a mãe tenta consolá-lo em uma chamada de vídeo. Em repouso vocal total, ele não fala, mas ouve a matriarca e demonstra, por gestos e muitas lágrimas, frustração com a situação. Antes disso, conversas com médicos e tentativas falhas de aquecimento vocal mostram a situação delicada da voz do cantor, contrariando a ideia apontada eventualmente nas redes sociais de que o diagnóstico seria apenas uma desculpa para produzir cenas dramáticas para o filme que estava sendo produzido — embora elas, de fato, cumpram este papel.

Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, 3, Shawn contou que assistir às gravações o levou a entender a cobrança que ele exerce sobre si mesmo. Nos holofotes desde a adolescência, ele diz que é difícil reconhecer padrões sobre a própria personalidade, e que ver as imagens ajudaram nesse processo. “Quando eu terminei a turnê, após alguns meses, vi pela primeira vez as cenas de São Paulo e ali eu notei o tamanho da pressão que coloco sobre mim mesmo. Percebi que eu precisava pegar mais leve comigo”, analisou o cantor, que enxerga beleza no momento. “Foi bonito de certa forma porque eu conseguir ter essa espécie de cuidado e respeito comigo mesmo por causa do documentário.”
Para gravar as imagens, o diretor disse que a maior dificuldade foi manter-se invisível. Ele acompanhou o canadense durante meses: esteve em seu apartamento, em Toronto, na casa dos pais, onde Mendes cresceu e, é claro, no seu encalço na estrada. Para passar naturalidade, no entanto, Shawn precisava esquecer das câmeras que o vigiavam em todos os lugares, até mesmo no banho. “Eu tive que me tirar da cena para capturar a mágica do momento. Na sequência do Brasil, eu acho que em metade das cenas ele nem sabia que estava sendo filmado. Nós mantivemos distância, filmamos pelo vidro. Realmente nos fizemos invisíveis para que ele pudesse viver a vida dele”, explica o diretor.
Feito para agradar fãs, o filme se tornou para o garoto uma espécie de fita caseira superproduzida. “Muitas pessoas têm gravações feitas em família guardadas, mas poucas têm a chance de assistir a um documentário dirigido, editado e produzido sobre si mesmo. É uma sensação estranha, mas especial.”