Norah Jones: banda cover de Tom Jobim na faculdade
Em entrevista, a cantora americana de 40 anos, que em dezembro faz turnê por São Paulo, Curitiba e Rio, fala de sua relação com a música brasileira
Seus dois singles mais recentes são uma parceria com o cantor brasileiro Rodrigo Amarante. Como se conheceram? Eu o conheci há onze anos na plateia de um show em Nova York. Disse que estava indo para o Brasil e ele me deu boas dicas de locais para visitar. Quando a minha gravadora pensou num disco de colaborações, ele estava no topo da lista. Sou fã da antiga banda dele, Little Joy, e adoro o disco Cavalo. Só depois descobri que ele integrou um grupo chamado Los Hermanos.
Em uma das canções, I Forgot, a letra traz a palavra saudade. Fala português? Na verdade sempre quis colocar a palavra saudade numa letra. Você pode até pensar que é uma referência à Chega de Saudade, mas não. Só gosto da sonoridade. Minha mãe tinha vários discos de música popular brasileira porque visitou o Brasil nos anos 70. Na faculdade, eu cheguei a cantar numa banda de covers de Tom Jobim. A namorada do baterista era brasileira e fazia questão que eu pronunciasse tudo certinho. Então só decorei as palavras, mas nunca o significado delas.
Sua música é classificada como jazz. Não seria um rótulo redutor, visto que compôs também em outros estilos? Fugi desse rótulo por muito tempo até perceber que não me importava com a maneira que as pessoas me classificam. Mas, sim, estou numa gravadora especializada em jazz e venho de um meio jazzístico. Enfim, podem me chamar do que quiser. O mais importante é que a música seja apreciada.
Seu disco de estreia, Come Away With Me, vendeu mais de 27 milhões de cópias. Como foi lidar com esse sucesso logo de cara? Eu não sei. Será que dei muita sorte? Quando entrei no estúdio, minha última preocupação era saber se o disco iria vender ou não. Queria fazer um bom trabalho. Estava inspirada e queria mostrar as minhas canções. Quando o disco fez sucesso, nunca me preocupei em seguir essa receita de novo, quis mostrar que posso compor em outros estilos também.
O formato álbum perdeu força. Vários artistas, como você, estão lançando somente singles. O disco vai acabar? Os singles são, sim, o futuro. Embora eu goste de criar canções para um disco inteiro, acho o formato atual mais interessante. Porque eu tenho uma vida muito ocupada, dois filhos pequenos e acho melhor concentrar meu tempo em colaborações pontuais
Você é mãe de um casal. Como concilia o trabalho de cantora com a maternidade? Bem, quem disse que eu consigo? Claro que sou uma boa mãe, mas o principal desafio é justamente achar um equilíbrio entre essas duas funções. Porque às vezes estou tentando compor e largo tudo para ficar com meus filhos.
Publicado em VEJA de 27 de novembro de 2019, edição nº 2662