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Natalie Portman a VEJA: “O machismo afeta toda mulher”

A atriz israelense conta como se tornou uma força do ativismo no cinema e na TV e fala da nova série sobre feminicídio e discriminação contra negros e judeus

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jul 2024, 12h33 - Publicado em 26 jul 2024, 06h00

Na minissérie A Mulher no Lago, da Apple TV+, sua personagem investiga a morte de uma jovem negra — em comum, ambas são vítimas, em diferentes graus, do machismo. Diria que esse dilema espelha a vida real? Sem dúvida. Cada uma de nós lida com particularidades sociais e de raça que definem os obstáculos que teremos na vida. Mas o machismo afeta toda mulher. A estrutura patriarcal interfere no trabalho, na disparidade salarial, na dupla jornada entre profissão e família. Nós, mulheres, somos pressionadas a cuidar mais do interesse dos outros que dos nossos.

No primeiro episódio, sua personagem escuta que não se parece judia. Já passou por essa situação? Muitas vezes. As pessoas me diziam isso como se fosse um elogio, sabe? Falei sobre essa experiência com a criadora da série, a Alma Har’el, que também é judia, sobre como eu me sentia desconfortável.

Sua experiência com o antissemitismo, então, foi mais amena, por assim dizer, que a dos judeus que eram “reconhe­cidos”? Em parte, sim. Mas não ser reconhecida como judia é como não ser vista por inteiro. Essa é uma faceta importante da minha identidade, do modo como fui criada, dos meus valores e da minha cultura.

Após o movimento feminista #MeToo, a senhora disse que trabalharia com mais mulheres — e elas são maioria por trás dessa série, com pessoas negras e judias, especialmente. Como foi a experiência? Foi uma atmosfera inspiradora. É importante trabalhar com quem tem experiência e perspectiva sobre a história que está sendo contada. Foi muito colaborativo e era isso que eu buscava.

Na série, que é baseada no livro de mesmo nome da autora Laura Lippman, existem vilões entre as minorias. Isso chamou sua atenção? A ideia do oprimido que se torna opressor é meu grande medo. Podemos ficar tão envolvidos em nossa luta particular e nos nossos problemas que não prestamos atenção aos dilemas dos demais. Esse é um dos principais desafios da humanidade: é importante não se fechar tanto na sua bolha a ponto de ficar cego para os outros.

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Há tempos a senhora optou por deixar o papel de mocinha inocente de lado. O que a atrai nas mulheres complexas? Gosto de personagens que me dão a chance de ser alguém diferente de mim mesma. É o barato de ser atriz. Assim aprendo com outras realidades — e, logo, saio da minha bolha.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903

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