Natalie Portman estrela ‘Aniquilação’, um sci-fi feminista
Um grupo de mulheres cientistas é recrutado para uma missão em um local onde caíram extraterrestres
Aniquilação podia ser apenas mais uma grande produção de ficção científica inteligente e extravagante, mas sua verdadeira audácia é contar com um elenco todo de mulheres. Os filmes de mulheres — quase um gênero em si, de tão raros — ainda são relegados à comédia (Missão Madrinha de Casamento, Viagem das Garotas, o remake de Caça-Fantasma, entre outros).
Em Aniquilação, Alex Garland (já aplaudido por Ex Machina: Instinto Artificial, de 2015) põe em cena um grupo de mulheres cientistas. Elas são recrutadas para uma missão na “Zona X”, uma parte sinistra e misteriosa da costa americana, ao redor de um lugar secreto, onde caíram extraterrestres. O longa estreia dia 23 de fevereiro nos Estados Unidos, mas ainda não tem data de chegar ao Brasil.
Natalie Portman é uma bióloga e ex-militar que se une à expedição para descobrir o que aconteceu com o marido, um membro das Forças Especiais gravemente ferido enquanto investigava a região e seu estranho fenômeno. “Nunca se viu isso… Você nunca tem a oportunidade de trabalhar com cinco incríveis papéis de mulheres”, comemorou a atriz na pré-estreia mundial do filme, na terça-feira, em Los Angeles.
“É difícil achar um (bom papel), e encontrar logo cinco juntos e ter a oportunidade de trabalhar com minhas irmãs e passar esse tempo juntas, e ver cada uma e aprender com cada uma… É simplesmente notável”, completou Natalie. “Entre as tomadas, a gente sentava e se divertia, discutia, contava piadas. Para mim, essa ficará como a imagem desse filme: nós cinco, em uma barraca, brincando.”
Feminista assumida, ela foi uma das fundadoras do movimento Time’s Up, criado por centenas de mulheres de prestígio em Hollywood para lutar contra o assédio e contra as agressões sexuais no ambiente de trabalho.
‘Donzela em perigo’
Nesta nova produção, Alex Garland, que já havia escrito o thriller apocalíptico Extermínio, de Danny Boyle, adaptou a aclamada série de livros de Jeff VanderMeer, Southern Reach Trilogy (no Brasil, Trilogia Comando Sul; e seu vol. 1, Aniquilação, publicado pela editora Intrínseca).
A história se passa nos pântanos da Flórida, recriados no Windsor Great Park, na Inglaterra, para as filmagens. O local já foi um terreno de caça da família real.
Na trama, Natalie Portman divide a cena com Jennifer Jason Leigh (Mulher Solteira Procura, Os Oito Odiados), Gina Rodriguez (Jane the Virgin, O Touro Ferdinando), Tessa Thompson (Creed: Nascido para Lutar, Selma – Uma Luta pela Igualdade) e Tuva Novotny (Comer, Rezar, Amar).
Já o marido de Natalie Portman em Aniquilação é interpretado por Oscar Isaac, de 38 anos, um dos principais nomes de Ex Machina. Hoje um dos atores de maior destaque em Hollywood, muito em função de seu papel na última trilogia Star Wars, neste filme ele está reduzido a um personagem inconsciente sobre uma cama de hospital. E assim permanece grande parte da projeção.
“Em geral, um grupo de caras vai para algum lugar, e eles salvam a única personagem feminina. Aqui, é o contrário. Sou eu que faço a donzela em perigo. Foi bom”, brincou.
‘Embranquecimento’
Tessa Thompson, de 34, observou que os três filmes de maiores bilheterias nos Estados Unidos no último ano tinham uma mulher como personagem principal: Star Wars: Os Últimos Jedi, A Bela e a Fera e Mulher-Maravilha.
Mesmo com um cartaz basicamente feminino, com atrizes de origem hispânica e negra, Aniquilação não é poupado de polêmicas, em uma indústria criticada cada vez mais por seu conservadorismo e discriminação persistentes, ainda que sob o verniz de discursos progressistas.
O filme foi acusado de ter “embranquecido” algumas personagens, já que os papéis de Natalie Portman e de Jennifer Jason Leigh eram, na versão original, de uma asiática e uma ameríndia.
Nos Estados Unidos, a produção chega às telonas em 23 de fevereiro. Após testes que descrevem o filme como “muito intelectual”, o estúdio Paramount decidiu vender os direitos internacionais para a Netflix — à exceção de China e Canadá –, alegando antecipar um fracasso de bilheteria.
Apesar da previsão pouco otimista, as primeiras críticas já são animadoras. “É o tipo de ficção científica que sempre tivemos vontade de ver”, tuitou Ben Pearson, do site Slash Film. “Audaciosa, complexa, singular, visualmente deslumbrante”, elogiou.