Mostra imersiva leva público a uma viagem pela mente de Van Gogh
A onda das grandes exposições ganha peso no país com a estreia de 'Beyond Van Gogh', que proporciona ao espectador um mergulho instigante na obra do pintor
![PINCEL TECNOLÓGICO - Flores de Van Gogh: as imagens se mesclam em movimentos hipnotizantes -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/03/ABRE-EXPOSIÇÃO-VAN-GOGH-01.jpg.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Os mistérios do infinito sempre intrigaram Vincent van Gogh (1853-1890). Foi na busca por uma conexão com a espiritualidade — e na esperança de que esse seria o remédio para aplacar suas angústias — que o holandês começou a pintar o céu. “Quero captar o sentimento das estrelas”, escreveu ele. O modo peculiar de ver e lidar com o mundo fez de Van Gogh um pária em seu meio enquanto vivo — mas, como sabemos, um gênio indisputável para as gerações posteriores. Hoje, as obras de Van Gogh foram incorporadas à cultura pop e o valor de seus quadros passa dos 100 milhões de dólares — vários, como A Noite Estrelada (1889), são inestimáveis. Ficar diante de um trabalho original do pintor pós-impressionista é um privilégio (o Brasil tem apenas quatro quadros assinados por Van Gogh, todos no Masp). Mas, graças às dádivas da tecnologia, agora o público nacional tem a chance de usufruir uma experiência impressionante: a de “entrar” nos delírios do artista — e, depois, postar tudo nas redes sociais.
![APOIO-EXPOSIÇÃO-VAN-GOGH-02.jpg DANÇA NO CÉU - A Noite Estrelada: a obra envolve o espectador -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/03/APOIO-EXPOSIC%CC%A7A%CC%83O-VAN-GOGH-02.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Mais de 100 anos após a morte do pintor, a exposição Beyond Van Gogh vale-se de uma parafernália digital para projetar as imagens animadas de suas obras-primas em telões gigantescos, criando uma experiência sensorial que coloca o público no centro da cena. Criada originalmente no Canadá, ela ocupa, desde quinta-feira 17, um pavilhão de 2 200 metros quadrados no MorumbiShopping, em São Paulo — e segue em julho para Brasília. Com expectativa de atrair mais de 400 000 visitantes apenas em solo paulistano, o evento reafirma a popularidade crescente das mostras imersivas — formato que celebra o trabalho de grandes artistas de um modo democrático — e capaz de atrair audiências que não têm o hábito de ir a museus.
Van Gogh: A salvação pela pintura
Beyond Van Gogh foi vista por mais de 20 milhões de pessoas em 25 países. No Brasil, a mostra que festejava os 500 anos de Leonardo da Vinci no MIS Experience arrebanhou 480 000 visitantes, em 2020, ao reproduzir obras do mestre renascentista em telões de alta resolução e réplicas de suas invenções. No mesmo molde, a recém-aberta exposição sobre Candido Portinari, também no MIS, acrescentou às projeções em telões elementos como sacas de grãos de café, que aludem ao contexto de suas telas — e aromatizam o ambiente. Essas estratégias servem para tirar o visitante do posto de mero observador e levá-lo a se misturar com a obra e com o artista. “Um quadro de Van Gogh tem de 3 000 a 4 000 pinceladas, é fantástico de admirar. Na mostra imersiva, são 80 milhões de pixels e quarenta projetores a laser — algo comparável a quarenta salas de cinema”, mensura Rafael Reisman, CEO da Blast Entertainment, realizadora da Beyond Van Gogh no Brasil.
![PORTINARI.jpeg NACIONAL - Portinari para Todos: telões e até café para aromatizar a mostra -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/03/PORTINARI.jpeg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Esses projetores, que sozinhos custaram 12 milhões de reais, fazem uma complexa coreografia que delineia nas paredes e no chão 350 obras do holandês. Imagens de seus célebres retratos se posicionam lado a lado — e cada uma delas se transforma, em seguida, em seus famosos vasos de flores. A água do lago da obra Noite Estrelada sobre o Ródano (1888) se movimenta sob os pés dos visitantes, enquanto a belíssima Amendoeira em Flor (1890) perde suas pétalas ao vento. Mais que curtir Van Gogh, é como entrar no turbilhão de sua mente.
Com reportagem de Marcelo Canquerino
Publicado em VEJA de 23 de março de 2022, edição nº 2781
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