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Morre o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, gigante da literatura africana

Escritor que criticou o colonialismo britânico e a elite queniana foi cotado diversas vezes para o prêmio Nobel

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 Maio 2025, 10h16 - Publicado em 29 Maio 2025, 10h08

O escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, um dos maiores expoentes da literatura africana, morreu nesta quarta-feira, 28, aos 87 anos. A informação foi confirmada pelo filha do autor nas redes sociais. A causa da morte não foi divulgada.

Nascido James Thiong’o Ngũgĩ, em 1938, quando o Quênia ainda estava sob domínio colonial britânico, o autor que chegou a ser cotado diversas vezes para o prêmio nobel de literatura começou a carreira escrevendo em inglês, mas largou o idioma anos depois para defender a literatura em sua língua nativa, o kikuyu. Junto a isso, passou a assinar como Ngũgĩ wa Thiong’o, renegando a influência anglófona em seu nome de batismo.

Ele cresceu na cidade de Limuru, em uma família de trabalhadores agrícolas de baixa renda. Seus pais economizavam o que tinham para mantê-lo em um internato administrado por missionários britânicos, garantindo a ele uma boa educação. A vida, no entanto., não foi fácil: quando retornou da escola em um final de semestre, descobriu que toda sua aldeia havia sido arrasada pelas autoridades coloniais e seus familiares e outras milhares de pessoas foram forçados a viver em campos de detenção durante a repressão a movimentos que lutavam pela independência do Quênia.

Em 1959, enquanto os britânicos lutavam para manter o controle sobre o Quênia, Ngũgĩ partiu para estudar em Uganda. Matriculou-se na Universidade Makerere, uma das mais prestigiadas da África, e começou a investir na escrita. Durante uma conferência de escritores na faculdade, compartilhou o manuscrito de seu romance de estreia com o reverenciado autor nigeriano Chinua Achebe, que encaminhou a obra para sua editora no Reino Unido. Intitulado  Weep Not, Child, o livro foi lançado com aclamação da crítica em 1964.

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Com a repercussão da estreia, Ngũgĩ rapidamente publicou mais dois romances populares, Um Grão de Trigo e O Rio do Meio. Com uma literatura de alto teor político, que criticava a colonização europeia na África, sua aclamação cresceu rapidamente entre a crítica especializada: em 1972, o jornal britânico Times afirmou que Ngũgĩ, então com 33 anos, era “um dos escritores contemporâneos de maior destaque do continente africano”.

Em 1977, já consolidado, publicou seu último romance em inglês, Petals of Blood, com críticas ao líderes que emergiram com a independência queniana, retratando-os como uma classe de elite que traiu o próprio povo. No mesmo ano, escreveu a peça Ngaahika Ndeenda (Casarei Quando Quiser), retratatando a luta de classes crescente em sua terra natal. A temporada teatral foi encerrada pelo governo do então presidente Jomo Kenyatta e Ngũgĩ foi preso por um ano, sem direito a julgamento. Nesse período, abandonou seu nome de nascimento, James, e escreveu seu primeiro romance em kikuyu, O Diabo na Cruz.

Quatro anos depois, em Londres, o escritor disse ter descoberto uma conspiração para matá-lo quando retornasse ao Quênia, e iniciou um autoexílio no Reino Unido e depois nos Estados Unidos. Ele não voltou ao seu país por 22 anos, e foi recebido como herói pela população quando pisou novamente em sua terra natal. Mesmo assim, agressores invadiram o apartamento do autor, atacando brutalmente ele e sua esposa, no que ele afirmou ter sido um “ataque político’.

Com isso, o escritor retornou aos Estados Unidos, onde ocupou cargos de professor em universidades como Yale, e Irvine, na Califórnia. No meio acadêmico, ele é tido como um dos maiores defensores da literatura escrita em línguas africanas. “Qual é a diferença entre um político que diz que a África não pode viver sem o imperialismo e o escritor que diz que a África não pode viver sem as línguas europeias?”, questionou ele em uma coletânea de ensaios intitulada Descolonizando a Mente, que critica, inclusive, Chinua Achebe — o autor que o ajudou a lançar sua carreira — por escrever em inglês. 

Na vida pessoal, Ngũgĩ casou-se duas vezes e teve nove filhos, quatro dos quais também são autores publicados.

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