Morre o historiador Nicolau Sevcenko, aos 61 anos
Professor da USP foi autor de importantes livros históricos, entre eles 'Orfeu Extático na Metrópole' , 'A Revolta da Vacina' e 'Literatura como Missão'
O historiador Nicolau Sevcenko, 61 anos, morreu na noite desta quarta-feira em sua casa em São Paulo, no bairro do Belém. A causa da morte ainda é desconhecida, contudo a esposa de Sevcenko, Cristina Carletti, acredita que tenha sido um enfarto. Ainda não há informações sobre velório e enterro.
Filho de imigrantes russos vindos da região da Ucrânia, Sevcenko nasceu em São Vicente, São Paulo, em 1952. Formou-se em História na Universidade de São Paulo (USP), onde fez seu doutorado e lecionou de 1985 a 2012, quando se aposentou. Também deu aula na PUC de São Paulo, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e em Harvard, onde ministrava história e cultura da América Latina e do Brasil. Concluiu seu pós-doutorado pela University of London em 1990 e, em seguida, a livre-docência pela USP. Suas aulas na Universidade de São Paulo eram altamente disputadas e ministradas em salas grandes, sempre lotadas.
O historiador publicou, editou e traduziu livros. Seus principais temas de estudo foram cultura brasileira, anos 1920 e desenvolvimentos de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Entre os livros de sua autoria estão A Corrida para o Século XXI (Companhia das Letras), Orfeu Extático na Metrópole (Companhia das Letras), e Literatura como Missão (Companhia das Letras). Neste último, que foi sua tese de doutorado, Sevcenko afirma, de forma corajosa, que a história é um exercício inglório de busca pela verdade, objetivo que deve ser perseguido, apesar das limitações que essa perseguição impõe.
Outra obra importante é A Revolta da Vacina, lançada em 1984 pela editora Brasiliense e reeditada em 2010 pela Cosac Naify. Trata-se de um clássico por detalhar os bastidores da maior convulsão social do Rio de Janeiro, ocorrida em 1904: pelas contas oficiais, a onda violenta de insatisfação popular durante a campanha de vacinação contra a varíola resultou em 30 mortos, 110 feridos, 945 presos e 461 deportados.
No livro, Sevcenko parte da rebeldia contra a imunização obrigatória para revelar tensões históricas profundas numa República que buscava se consolidar. E, por envolver história social, urbanismo, antropologia, saúde pública, a obra chegou a ser mencionada entre os 75 livros produzidos por professores da USP mais citados em trabalhos acadêmicos.
Sevcenko também sempre se interessou pela versatilidade da arte brasileira, aprendida justamente na adversidade. Em 2006, escreveu o artigo A Imaginação no Poder e a Arte nas Ruas, em que faz um sucinto levantamento das experiências estéticas dos séculos XIX e XX.
Também histórias curiosas não fugiam de sua atenção como o debate que suscitou em 2005 sobre a rua mais representativa de São Paulo – para ele, era a Rua São Paulo, próxima da Praça da Sé. “Era o espaço maldito da cidade onde, no século 18, a coroa portuguesa estabeleceu a forca, visível de praticamente todos os quadrantes da cidade, expondo assim cruamente a todas as gentes a força da justiça.”
(Com agência Estado)