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Morre cantor e compositor João Gilberto

Um dos criadores da Bossa Nova, ele tinha 88 anos de idade e vivia recluso no Rio de Janeiro

Por Da Redação
Atualizado em 25 mar 2021, 16h48 - Publicado em 6 jul 2019, 16h45

O cantor e compositor João Gilberto, um dos criadores da Bossa Nova, morreu neste sábado, 6, ao 88 anos, segundo uma postagem de seu filho João Marcelo nas redes sociais. A causa da morte ainda não foi confirmada pela família.

Gilberto morreu em casa, no Rio de Janeiro. Ele sofria com problemas de saúde há algum tempo. 

“Meu pai morreu. Sua luta foi nobre, ele tentou manter a dignidade à luz da perda da independência. Agradeço minha família por estar aqui por ele”, escreveu o filho do cantor.

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Além de Marcelo, o cantor e compositor deixa outros dois filhos, Bebel e Luisa.

Nos últimos anos, uma disputa familiar com a cantora Bebel, 51 anos, perturbou a vida reclusa de João Gilberto. A filha do meio do músico conseguiu junto à Justiça do Rio de Janeiro interditar o pai e obter a tutela provisória de seus contratos e movimentações financeiras no fim de 2017. 

A neta do cantor, que também é cantora que possui uma página oficial no Facebook, fez uma homenagem ao avô na rede social. “Vou sempre me sentir deitada no colo dele ouvindo suas músicas e histórias”, escreveu. 

Voz e violão

O pai mais perfeccionista da Bossa Nova subiu nos maiores palcos mundo para seus shows de voz e violão.

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Entre suas muitas canções antológicas destacam “Desafinado”, “Garota de Ipanema”, “Chega de saudade”, “Rosa Morena”, “Corcovado” e “Aquarela do Brasil”.

O álbum que marcou o início da Bossa Nova em 1959, “Chega de saudade”, traz a música de mesmo nome composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes . 

João Gilberto nasceu em Juazeiro, na Bahia, em 10 de junho de 1931. Aos 14 anos, ganhou o primeiro violão do pai e aos 16 abandonou os estudos para se dedicar à música após se mudar para Salvador. 

Anos depois, no Rio de Janeiro, criou a batida característica da Bossa Nova. Logo no início, não conseguiu sucesso, mas depois de se dedicar ao estudo da harmonia da música encantou importantes compositores e produtores musicais da época. 

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Ao perceber seu talento, Tom Jobim apresentou a João a música que havia composto com Vinicius de Moraes.  “Chega de saudade” marcou para sempre a carreira do músico e compositor. 

A maioria dos brasileiros o viram pela última vez em um vídeo em 2015, onde apareceu muito magro e de pijama cantando “Garota de Ipanema” para sua neta acompanhado de seu violão.

Conflito familiar

Por anos, João Gilberto se viu envolvido em um conflito entre dois de seus três filhos, João Marcelo e Bebel Gilberto, também músicos, e sua última esposa, Cláudia Faissol, uma jornalista 40 anos mais nova que ele e mãe de sua filha adolescente.

Bebel e João Marcelo acusam Cláudia Faissol de se aproveitar da fraqueza do pai e provocar sua ruína.

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No final de 2017, sua filha Bebel obteve sua tutela, quando já não podia cuidar de sua saúde e de suas finanças devido à sua fragilidade física e mental.

Vida de silêncio

João Gilberto era calado para o mundo, ruidoso consigo mesmo, percutia as ideias em sua caixa de ressonância de forma que só quem estivesse próximo o escutasse. Na vida em monastério que adotou por anos, seguia invisível e em total silêncio, abrindo a porta de seu apartamento apenas para poucos, como a filha Bebel Gilberto, a ex-namorada Claudia Faissol e sua filha com ela, Lulu.

João não estava pronto para se tornar um gigante. Nunca entendeu bem o que era isso. Menino de Juazeiro da Bahia, nadou nas águas do São Francisco e beijou garotas da vizinha Petrolina como se fosse normal. E era, até o dia em que avistou um caminhão vindo por uma estrada que cruzada sua cidade. Ao amigo que o acompanhava, disse como se recitasse uma oração: “Veja lá aquele caminhão, que maravilha. As árvores estão acariciando sua cabeça.” Árvores, pássaros, chuva, tudo parecia mais importante a seus olhos e ouvidos do que os próprios homens.

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Mas a história estava em suas mãos. Aos 18 anos, em Salvador, já trabalhava com carteira assinada na Rádio Sociedade da Bahia. Não havia ainda desenhado o formato voz e violão, mas seguia os mandamentos de Orlando Silva tentado imitá-lo, por mais que o moderno já fossem Dick Farney e Lúcio Alves. O grupo vocal Garotos da Lua o chamou e lá se foi, ainda sem a obrigação com o violão, gravar dois discos em 78 rotações. 

No Rio de Janeiro, apresentou a levada uniforme deslocando acentos fortes para lugares incomuns, a harmonia abrindo picadas onde ainda ninguém havia passado, a mão que fazia acordes fazendo também percussão. E a voz. A voz de João deixava as tentativas da impostação e partia para o que fazia o trompetista Chet Baker quando cantava. Volume baixo e notas de longa duração, limpas, sem vibrato. João, depois de acreditar no violão, passava a ter fé no fio da própria voz.

E, então, fez-se a Bossa Nova. O que ele fez foi pouco e simplesmente tudo. Criou um violão brasileiro e, sobre ele, ajudou a fundar um gênero.

“Em pouquíssimo tempo, (João) influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores”, escreveu Tom na contracapa do LP Chega de Saudade. 

(Com Estadão Conteúdo e AFP)

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