

A postura da atriz italiana Monica Vitti valia por uma escola de cinema. Não há como dissociá-la de quatro filmes clássicos de Michelangelo Antonioni, com quem foi casada: A Aventura (1960), A Noite (1961), O Eclipse (1962) — a chamada “trilogia da incomunicabilidade, em preto e branco — e o colorido O Deserto Vermelho (1964). A postura aparentemente fria de Monica, que aprendera seu ofício no teatro, entre peças de Shakespeare e Molière, rapidamente virou ícone daquela revolução no cinema — Antonioni se alimentava de planos longuíssimos e dos silêncios, muitos silêncios, para evidenciar o desconforto de seus personagens com a aborrecida vida burguesa. Precisava, portanto, de intérpretes que soubessem se calar. Quando viu Monica pela primeira vez no palco, o diretor foi direito ao ponto. “Você tem uma bela nuca, poderia fazer cinema”, disse. A resposta, que deflagraria um longo relacionamento: “Você quer me filmar apenas de costas?”. Não foi assim, mas quase. Em A Aventura, aqueles olhos, bonitos e expressivos, preenchiam a tela, demoradamente. “É a coisa mais fascinante a respeito dela”, disse Antonioni. “Eles não param em nenhum objeto, mas fixam segredos distantes. É o olhar de uma pessoa que está procurando onde terminar seu voo e não consegue encontrá-lo.”
Depois do imenso sucesso no início dos anos 1960 e de estar tão intimamente ligada a um movimento artístico, ela ainda tentou fazer comédia, sobretudo as de Alberto Sordi — mas não convenceu, eram trabalhos sem força, francamente sem graça, e aos poucos foi perdendo o viço original. Transformara-se em prisioneira de seus primeiros personagens. Mas sabia rir dessa condição. “De manhã, sou como os filmes de Antonioni, um pouco triste, mal consigo começar o dia”, diria numa entrevista. “À noite me sinto mais feliz, como minha personagem em Um Caso Quase Perfeito (comédia romântica de 1979).” Em 2011, Monica Vitti foi diagnosticada com doença de Alzheimer e saiu de cena. Morreu em 2 de fevereiro, aos 90 anos, em Roma.
Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775