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Maquiagens que valorizam ou criam olheiras ganham força no TikTok

A moda atrai meninas e mulheres da chamada geração Z, de 11 a 25 anos

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h43 - Publicado em 12 fev 2021, 06h00

Está aí para quem quiser ver e ouvir: o laboratório global de tendências é a rede social TikTok e seu infinito arsenal de pelo menos 2 bilhões de downloads afeitos a mexer com corações e mentes. Deu no TikTok? É bom prestar atenção. A novíssima onda é a valorização das olheiras. Meninas da chamada geração Z, nascidas entre 1995 e 2010, dos 11 aos 25 anos de idade, têm aparecido aplicando pinturas para realçar ou criar as bolsinhas embaixo dos olhos. O modismo não lembra, nem de longe, os pálidos e soturnos emos, turma do início dos anos 2000 que pregava rostos branquíssimos e olhos escuríssimos. Não são, também, a tradução para os tempos de pandemia da melancolia infindável, aquele estado de spleen, detalhado por Charles Baudelaire em As Flores do Mal.

O fenômeno, desses que vão e vêm como ondas do mar, tem outra roupagem, apesar do ar um tanto estranho. Os vídeos postados na plataforma chinesa são alegres, quase sempre acompanhados de músicas dançantes. Garotas lindíssimas aparecem usando batons e sombras suaves em tom puxado para o marrom ou roxo de modo a realçar a região debaixo dos olhos, com a devida retirada do corretivo ou da base. O ar é de rebeldia com pitadas de humor. Eis o que disse uma das adeptas do estilo: “Fico feliz que a minha falta de sono e excesso de cafeína estejam na moda”.

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SEDUÇÃO - Raynara Negrine, modelo da Chanel: grifes internacionais deflagraram a valorização da beleza mais natural – (Reprodução/Instagram)

A febre deflagrada pelas tik­tokers é, na verdade, uma forma radical de acompanhar a grande marca no universo da beleza dos últimos meses: a valorização dos aspectos reais do rosto. Em vez do uso do contorno facial, técnica para redesenhar as maçãs do rosto e do nariz, e das bases que deixam a tez totalmente corrigida, é comum agora modelos de grifes consagradas, como Chanel e Versace, exibirem a pele nos desfiles em passarelas, presenciais ou transmitidos por vídeo, com olheiras, pintas e manchinhas. Nessa toada, também começaram a ser perfeitamente aceitas as sobrancelhas grossas, com fios rebeldes. “O mercado foi atrás desse novo cenário, lançando uma profusão de produtos que não camuflam as características naturais do rosto”, diz Maria Lima, disputada profissional especializada em maquiagem de festas, do Rio de Janeiro.

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Aparecer sem retoques exagerados é, de algum modo, gesto de posicionamento na sociedade — uma maneira de discutir a liberdade dos corpos e rostos, tolhida das mulheres por décadas. “Já estava passando da hora de deixar de ser tabu sair de casa assumindo as próprias imperfeições”, diz Juliana Rakoza, diretora criativa da escola de maquiagem profissional Beauty4Share, em São Paulo. Se estendermos a lupa até o Egito Antigo, o uso de pintura preta ao redor dos olhos era um método de proteger-se dos raios solares, uma prática funcional. Milênios depois, a funcionalidade tornou-se absolutamente comportamental, ao questionar o que deveria, ou não, ser considerado belo. As olhei­ras cuidadosamente trabalhadas são, hoje, quase um manifesto feminino — e o resultado pode ser inclusive bonito.

Publicado em VEJA de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725

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