Lil Nas X, de artista de um só hit a grande aposta do pop
O americano venceu a sina com suas performances ousadas e brilho esfuziante, escandalosamente pop
A ilustração da capa de Montero, o novo álbum do rapper americano Lil Nas X, foge do que se esperaria de um disco do gênero. Nela, o cantor de 22 anos surge nu em pose sensual, flutuando resplandecente num cenário kitsch emoldurado por colunas jônias, fontes de águas cristalinas e um arco-íris, como em uma espalhafatosa visão do paraíso. A analogia não poderia ser mais sugestiva: Montero Lamar Hill, seu nome de batismo, ascendeu aos céus da cultura pop e hoje clama o trono que um dia pertenceu a Michael Jackson e Madonna. Pobre, negro e gay, ele despontou na música há coisa de três anos, com o rap-country Old Town Road. Parecia fadado a se tornar mais um artista de um sucesso só, mas seu novo trabalho prova justamente o contrário: Lil Nas X revelou-se um caso raro de estrela que transcende a música para se impor como fenômeno comportamental. Com 39 milhões de ouvintes mensais no Spotify e 4,3 bilhões de visualizações de seus clipes no YouTube, ele hoje é tão poderoso nessas plataformas quanto Beyoncé e Lady Gaga.
Lil NAS X: Record-Breaking Musician Who Blurs the Lines
A comparação com as musas estabelecidas do pop não é à toa: assim como elas, Lil Nas X desabrochou ao mostrar-se um artista que pensa e vive muito além da música em si — é performático, tem faro para fazer moda e surfar nela e, sobretudo, sabe usar o escândalo e a rebeldia a seu favor. E consegue isso tudo se mantendo fiel a si mesmo. “Criar esse álbum foi uma terapia. Percebi que a única opinião que importa é a minha”, já declarou. Lil Nas X tornou-se um personagem que os fãs acompanham ávidos por descobrir qual será o próximo lance bombástico. No multicolorido clipe de Montero (Call by Your Name), ele desce ao inferno e seduz o demônio com uma dança no pole dance, para em seguida tomar seu lugar. Dias depois do vídeo, lançou um tênis da Nike customizado, todo vermelho e rebatizado de “Satan Shoes” (calçados de satã). A Nike não gostou e o processou. Já no igualmente subversivo Industry Baby, há uma coreografia com nu frontal dele e de vários bailarinos, que dançam no vestiário de uma prisão toda cor-de-rosa. Mais abusado, impossível.
É no ativismo gay que Lil Nas X achou sua grande fonte de empoderamento: ele desafia a indústria fonográfica e o mundo do rap ao denunciá-los como machistas, homofóbicos e racistas. Recentemente, deu um beijão na boca de um de seus dançarinos na transmissão de um prêmio. Dias depois, postou uma foto simulando um barrigão de grávida. Fera indomável? Bem, na verdade tudo também são negócios: a tacada despertou o interesse da indústria da moda. Recentemente, no luxuoso baile do Met, em Nova York, ele roubou a cena ao exibir três looks malucões da Versace. Incluído na mais nova lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista Time, Lil Nas X só recebe aplausos com essa pegada escandalosamente pop.
Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2021, edição nº 2758
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