Kunal Nayyar, ex-‘Big Bang Theory’: “Ainda acham que sou o Raj”
Famoso como o astrofísico indiano na série cômica, o ator interpreta o suspeito de um crime no drama 'Suspicion', da Apple TV+
Quais desafios enfrentou na transição de uma sitcom de popularidade estrondosa para o drama policial Suspicion, no qual você é um especialista em tecnologia entre os suspeitos de um crime? O sucesso de Big Bang Theory marcou minha vida. Assim, sempre existirão os que acham que aquele gênero é tudo o que sei fazer, que sou só um comediante. Não quero parecer ingrato ou pedante, foi uma experiência maravilhosa, e a sitcom me abriu portas. Mas, para garantir a longevidade da minha carreira, devo explorar os mais diferentes tipos, e Suspicion me deu a chance disso.
Acredita então que não ficou marcado pelo astrofísico Raj? É curioso o modo como algumas pessoas me enxergam. Ainda acham que sou o Raj. The Big Bang Theory era uma sitcom gravada diante de uma plateia ao vivo, com gente rindo e aplaudindo, e com um roteiro que trazia uma ou duas piadas a cada três frases. Por doze anos, foi uma série vista em casa, à noite, com a família. Então, gradualmente, seu personagem se torna parte daquela família.
The Big Bang Theory estreou em 2007. Perto do fim, em 2019, havia críticas ao modo estereotipado como Raj era retratado. O que pensa disso hoje? Quando a série começou, eu tinha 25 anos e precisava de um emprego. Hoje, tenho 40 e posso ser seletivo, pois o dinheiro não é problema. Eu sabia que era um indiano tentando um espaço em Hollywood. Não me via na missão de quebrar estereótipos e mudar a indústria, nem na obrigação de chamar a atenção para minha etnia ou cultura.
Qual era, então, sua missão? Eu só queria provar que era um bom ator. Pois tinha a certeza de que merecia um lugar na TV. Ao fazer isso, sei que abri as portas para muitos indianos.
Você já disse que sacrificou tempo com sua família na Índia durante a sitcom, gravada em Los Angeles. Isso interfere agora nas suas escolhas? Quanto mais velho você fica, mais precisa estabelecer limites. Hoje, quero personagens diferentes do Raj, como o Aadesh de Suspicion, mas o que mais conta é o tempo que vou ficar longe da minha família (ele é casado com a modelo indiana Neha Kapur, miss Índia 2006) e o equilíbrio entre as demais áreas da minha vida. Não é uma ciência exata, nem sempre dá para conciliar tudo, porém tenho tentado.
Publicado em VEJA de 23 de fevereiro de 2022, edição nº 2777