Ken Follett: “Histórias mudam as mentes”
O autor britânico de 73 anos, que já vendeu 180 milhões de livros, fala sobre a importância de conhecer o passado para evitar erros

Nunca (ed. Arqueiro), seu livro mais recente, fala sobre a I Guerra. O que o conflito nos ensina? O que me impressiona é que ninguém queria a I Guerra. Isso mostra que podemos ser sugados para um conflito não desejado e temos de ser cuidadosos para evitar isso. É muito mais fácil entrar em uma guerra do que sair dela. Certamente estamos mais perto de um conflito mundial hoje que no momento da publicação original do livro, em novembro de 2021, quando não havia a guerra da Ucrânia.
Como avalia a situação atual do conflito entre Rússia e Ucrânia? Fiquei muito feliz quando Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, disse que espera pela paz antes do Natal, porque é nisso que devemos nos concentrar agora. Embora a guerra não tenha sido tão fácil para os russos quanto eles imaginavam, não é possível que os ucranianos derrotem a Rússia. Quando há um acordo de paz, ambos os lados têm de aceitar que não podem ter tudo. Para alguns líderes ocidentais, é difícil admitir isso. Mas os russos também deverão aceitar que a Ucrânia é um país independente, o que será difícil para eles.
Por quê? É um absurdo, mas as pessoas na Rússia hoje são como as pessoas que vivem nos Estados Unidos e só assistem à Fox News: elas têm uma ideia completamente distorcida da realidade.
Suas histórias abordam espionagem, guerras, terrorismo. Quando decidiu por esse eixo temático grandioso? É apenas a forma como minha imaginação funciona, sempre voltada para enredos emocionantes e aventura. Percebi cedo que eu não tinha escolha sobre que tipo de romance escrever, provavelmente porque as narrativas que amava quando criança eram assim.
Quando escreve uma história, costuma imaginar que tais acontecimentos poderiam, de certa forma, se tornar reais? Não penso assim. Mas acho que podemos aprender com a história. As pessoas que não conhecem nada sobre ela são perigosas. Há agora no mundo um aumento do nacionalismo e autoritarismo. É uma combinação que já foi testada e sabemos no que resulta: destruição. Os países que tomaram essa direção nos anos 1930 foram punidos pela história.
A literatura tem o poder de mudar o mundo? Sim. Discutir não muda a mente de ninguém, mas as histórias mudam. Se você quer transformar as pessoas, ou pelo menos abrir a mente delas para possibilidades, o modo de fazer isso é lhes contar uma história.
Publicado em VEJA de 20 de julho de 2022, edição nº 2798