Karol Conká: “Fui vítima do ódio”
A rapper paranaense conta como enfrentou uma implacável onda de cancelamento nas redes sociais em 2021 e garante que dará a volta por cima com novo disco


Seu novo álbum, Urucum, sai um ano após a eliminação do BBB com recorde de 99,17% dos votos. Temeu pelo fim da carreira diante de tamanha rejeição? Senti um impacto real e de longo prazo, mas extraí daí a inspiração para compor meu novo álbum. O BBB deu a oportunidade de me autoconhecer e entender para onde eu iria após a turbulência. Podemos tirar algo de bom de toda experiência ruim. Transformei minhas dores em canções que me trouxeram alívio e cura.
Até o programa, seu nome era incensado por famosos e sua imagem era a de feminista e defensora de minorias — mas saiu de lá chamuscada como egoísta, xenófoba e acusada de praticar bullying. Acredita que errou lá dentro? Durante o programa, eu estava ciente de que as minhas atitudes não eram legais e revi minha postura antes mesmo de ser eliminada. Eu me arrependi do que fiz na casa, mas isso foi ignorado aqui fora.
O processo de cancelamento que a atingiu nas redes sociais veio tanto do público quanto de celebridades. Como lidou com isso? Entendi que tudo passa. Percebi que há o tal “efeito manada”: as pessoas se sentem realizadas em destruir a vida dos outros. O mais triste foi perceber a quantidade de pessoas públicas, com milhões de seguidores, que usaram suas redes sociais para destilar intolerância contra mim. Sofri cancelamento por sadismo. Fui vítima do ódio: queriam que eu me destruísse. Não se reeduca o mundo assim.
Na época, seu filho, de 15 anos, também foi alvo de ataques. Como mãe, como se sentiu? Machucou muito. Como é que podem atacar uma criança? Conversei com meu filho e expliquei a situação. Eu disse que as minhas atitudes no BBB eram um exemplo do que não fazer. Minha conta com ele já está acertada. Muitas outras pessoas ao meu redor também foram atacadas e sofreram devido às minhas atitudes.
Nos shows, você se apresenta como uma mulher empoderada. Como é a Karoline na vida real? No palco, eu sou como a Beyoncé, que tem o alter ego da Sasha Fierce, ou como a Larissa, que tem a Anitta. Com o microfone, me sinto imbatível contra o preconceito e contra o machismo, e represento a força da mulher. Antes dessa onda de cancelamento, eu me sentia frágil fora dos palcos. Mas, após ter sido apedrejada, percebi que sou na vida real tudo aquilo que eu mostro nos meus shows.
Publicado em VEJA de 6 de abril de 2022, edição nº 2783