Julianne Moore: “Já sofri um golpe”
A atriz americana de 62 anos fala sobre seu novo filme, Sharper, da Apple TV+, e analisa as razões do sucesso de tramas recentes com charlatões

O filme Sharper — Uma Vida de Trapaças segue um grupo de golpistas tentando passar a perna em um bilionário. O que a atraiu no projeto? Em Hollywood, lemos tantos roteiros previsíveis, e esse foi uma grata surpresa. Eu estava no isolamento da pandemia quando o texto veio parar nas minhas mãos e, de forma virtual, comecei a produzi-lo até convencer a (produtora) A24 e a Apple a embarcarem na ideia.
Os golpistas estão em alta na TV e no cinema, como se verifica nas séries Inventando Anna e The Dropout. De onde vem o apelo desses personagens? Creio que existe um interesse genuíno pelo comportamento humano. O apelo desses filmes é esse: olhar a experiência alheia a partir da nossa, refletida ali de alguma forma. Por isso vamos ao cinema: para ver nossos sentimentos e angústias na tela. Queremos entender quem age diferente de nós. A mesma curiosidade move os atores. Reproduzimos as histórias de outras pessoas para aprender mais sobre nossa experiência como seres vivos.
Sua personagem, Madeline, é uma mulher elegante com uma ligação curiosa com os trapaceiros. Como foi a criação dela? Dar golpes é muito difícil, seria mais fácil viver de outra coisa. Então, quis entender esses personagens, suas histórias e por que agem assim. Notei que algumas pessoas simplesmente têm uma habilidade natural para manipular — e Madeline é assim.
A senhora já foi vítima de algum trapaceiro? Sim, já sofri um golpe. Existe um bem famoso em Nova York, geralmente acontece perto do metrô: uma pessoa pede ajuda, diz que foi roubada e que mora longe, por isso precisa de 20 dólares para voltar para casa. Na primeira vez que aconteceu comigo, eu acreditei no homem e lhe dei o dinheiro. Um mês depois, no mesmo lugar, a mesma pessoa veio me pedir 20 dólares, contando uma história idêntica. É um golpe comum, eu tenho certeza de que acontece em outros lugares também.
Vivemos então numa era de desconfiança? Penso que faz parte da vida, em diferentes níveis e situações. Em outra escala, vemos o caso de fraude envolvendo a FTX (corretora de criptomoedas que faliu no ano passado), o mesmo com o Bernie Madoff (que orquestrou um esquema de pirâmide financeira com prejuízo bilionário), e a insegurança dos NFTs (bens digitais caríssimos). Um dia alguém pode levar 20 dólares da sua carteira; no outro, alguém pode roubar toda a sua conta bancária. É importante estar alerta.
Publicado em VEJA de 1º de março de 2023, edição nº 2830