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Julia Michaels: “São os homens que devem ter medo agora”

Em entrevista a VEJA, compositora por trás de inúmeros hits de sucesso, como 'Sorry', de Justin Bieber, fala sobre seu recém-lançado álbum de estreia

Por Tamara Nassif 29 jun 2021, 16h58

Se Selena Gomez, Linkin Park, Justin Bieber, Maroon 5, Britney Spears, Dua Lipa e Gwen Stefani estivessem em um mesmo saco, seria difícil conseguir extrair um denominador comum que os unisse – para além da predileção por músicas que grudam na cabeça, é claro. Mas, por trás de hits esmagadores como Sorry, de Bieber, e Slumber Party, da ex-princesinha do pop Britney, há sempre uma mesma figurinha carimbada: Julia Michaels. A norte-americana de 27 anos tem um currículo farto como autora, ou co-autora, de canções de sucesso, que somam duas indicações ao Grammy para Canção do Ano (é dela e do namorado, aliás, a chiclete If the World Was Ending, de 2020) e uma como Artista Revelação. Foi só este ano que ela decidiu tirar suas palavras da boca dos outros para entoá-las sozinha, com o lançamento de seu álbum de estreia, Not in Chronological Order.

Em entrevista a VEJA, a artista conta sobre o processo de compor canções para si e para os outros, bem como sobre o sexismo na indústria musical e o movimento body-positive. Confira a conversa abaixo:

Que diferenças existem entre compor canções para outros artistas e compor para si? Quando escrevo para os outros, tomo o cuidado de inserir muito mais das perspectivas, histórias e vivências deles do que das minhas, apesar de ser impossível não imprimir um pouco de mim nas composições. É maravilhoso ver minhas palavras saindo da boca deles. Eu já fico feliz quando uma única pessoa no mundo se conecta comigo, mas é outra história quando são artistas fazendo isso. Eu admiro todos com quem trabalhei, em especial Niall Horan, e é uma honra que sintam o mesmo nível de respeito por mim. Mas, quando escrevo para mim, eu sei exatamente o que quero dizer. É a minha visão das coisas por completo e o jeito que eu quero contar a minha própria história. 

Como foi escrever seu álbum de estreia na quarentena? Apesar de ter iniciado o Not In Chronological Order antes da pandemia, muito dele foi feito em quarentena. Tive a sorte de reunir um grupo muito talentoso de pessoas que estavam dispostas a trabalhar comigo em um contexto tão difícil, todos nós com pessoas que moravam conosco e que não queríamos colocar em perigo. Estávamos todos muito apreensivos com as medidas de distanciamento social, então descobrimos uma maneira de produzir o álbum seguindo os protocolos de segurança. Por quase oito meses, ficamos isolados em uma sala, com muitos metros de distância uns dos outros, e conseguimos fazer o disco todo. 

Agora que seu álbum já saiu, pretende continuar compondo músicas para outros artistas ou pensa em focar mais em si? Acho que um pouco dos dois. Honestamente, por mais que eu adore ser artista e fazer turnês, eu ainda gosto muito de escrever com e para os outros. Foi assim que comecei minha carreira na música. No momento, não estou focada em produzir um segundo álbum, pois quero aproveitar a sensação de ter o meu primeiro feito. Só se faz o primeiro uma vez, não é? Eu não quero seguir em frente tão rápido e não curtir o que, por muito tempo, pensei que não conseguiria fazer. Estou fazendo os dois, mas quem sabe o que o futuro me reserva? Eu não faço ideia do que eu tenho para trazer à mesa ainda, mas torço para que minha honestidade e autenticidade sejam o bastante. 

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Apesar de trabalhar nos bastidores há um tempo, você emerge com um nome próprio na música pop só agora. Ao seu lado, temos duas compositoras de peso: Olivia Rodrigo, mais pop dançante, e Taylor Swift, mais folk e sensível. Tem alguma com quem você se identifica mais? Eu tento não me comparar com outras artistas, porque tenho a sensação de que é assim que as mulheres acabam se odiando. A mídia já nos compara e nos coloca umas contra as outras o tempo todo, então eu evito pensar nisso. Cada uma segue seu próprio caminho e faz o que acha que deve fazer, do jeito mais autêntico possível e do jeito que mais combina consigo e com os fãs. Eu faço o mesmo. Mas, assim como elas, eu escrevo sobre meus ex-namorados e não sinto um pingo de medo em relação ao sexismo na música. Fico feliz em poder falar sobre os meus exs boys-lixo o tempo todo, e mais feliz ainda em ver que existe uma nova onda de mulheres que estão se impondo e tomando as rédeas da coisa. Isso é muito empolgante. São os homens que deveriam sentir medo agora. 

Recentemente, você fez uma postagem body-positive nas redes sociais, mostrando pelos nas axilas e dizendo para que os haters comam um saco de minhocas. Como que esse movimento chegou até você? Começou sem querer, na verdade. Eu viajei com alguns amigos e parei de me depilar por um tempo. Chegando em casa, eu raspei meus pelos e pensei: “Eu não gosto disso. Acho que não vou mais me depilar.” Meu namorado super me apoiou e eu comecei a deixar crescer, mas percebi o quanto algumas pessoas ficavam incomodadas com isso na internet. Recebi uma chuva de comentários, vindos especialmente de outras mulheres, sobre como eu era suja e anti-higiênica por não raspar minhas axilas, e isso me causou muita revolta. Homens não recebem esse mesmo tratamento. Seguindo essa lógica, eles são tão nojentos e sujos quanto eu? A misoginia é tão internalizada e profunda em algumas pessoas que é uma ofensa o fato de mulheres terem pelos. Eles nascem com a gente porque devem estar com a gente, pô. Se você se incomoda com as minhas malditas axilas, que beije meu traseiro. Eu não pretendo mudar quem sou. Gosto de viver a minha verdade ao máximo e de encorajar que outras pessoas façam o mesmo.  

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