Joaquin Phoenix brilha em Berlim como cartunista tetraplégico
‘Don’t Worry, He Won’t Get Far On Foot’, de Gus Van Sant, conta a história de John Callahan, que era alcoólatra e ficou paraplégico num acidente
Gus Van Sant herdou do ator Robin Williams o projeto de adaptar a vida do cartunista americano John Callahan, que ficou paraplégico após um acidente de carro. “Eu conhecia o Callahan de Portland, mas Robin tinha comprado os direitos de seu livro”, disse o diretor em entrevista coletiva de Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot (“Não se preocupe, ele não vai longe a pé”, na tradução literal), que está na competição do 68º Festival de Berlim. “Só que nunca conseguiu fazer. Christopher Reeve era seu amigo próximo, e Robin queria interpretar um personagem tetraplégico em homenagem a ele.”
No filme, exibido em sessão de imprensa na manhã de hoje, John Callahan é vivido por Joaquin Phoenix. Morando na Califórnia, ele não consegue passar mais de uma hora acordado sem bebida alcoólica. Numa festa, conhece Dexter (Jack Black), que o convida para outra balada ainda melhor. Só que os dois estão bêbados, Dexter dorme ao volante e, ao acordar, Callahan está tetraplégico. O filme acompanha sua recuperação física e o tratamento para o alcoolismo em diversas fases, alternando as épocas e apresentando pessoas fundamentais, como a fisioterapeuta Annu (Rooney Mara) e o tutor Donny (Jonah Hill), que parece um rockstar. O drama está todo lá, mas também um bocado de humor, já que Callahan era um tipo debochado.
Ninguém afirmou estar falando a absoluta verdade como aconteceu. “John Callaham era contador de histórias, então ele mudava algumas coisas”, disse Van Sant. “Temos dúvidas se era tudo verdadeiro. Acho que eram baseadas na realidade, mas ele gostava de apimentar as coisas um pouco. Usamos a versão com pimenta.” Phoenix, que admitiu estar incomodado na entrevista coletiva, como costuma ser, foi a centros de recuperação e viu as filmagens que o diretor fez de Callahan, além de treinar numa cadeira de rodas.
O filme é coeso e mostra as dificuldades de encarar de frente seus próprios defeitos. Mas o que realmente encanta são os personagens e as performances dos atores, principalmente Phoenix, Hill e a cantora Beth Ditto, que faz um papel pequeno como uma das companheiras de terapia de John Callahan. Sem dúvida, é uma recuperação e tanto de Van Sant, que fez filmes brilhantes como Elefante, mas levou vaias merecidas em Cannes com O Mar de Árvores, quase três anos atrás.