João Lee: “Minha mãe nunca desistiu de lutar”
Aos 42 anos, o DJ e filho de Rita Lee diz que ela enfrenta de cabeça erguida o tratamento de um câncer
Depois de uma carreira de 25 anos como DJ, como se converteu em curador da mostra sobre sua mãe, Rita Lee, em São Paulo? Quando minha mãe terminou de escrever sua autobiografia, há cinco anos, ela me deu uma missão: coordenar todos os produtos derivados do livro, incluindo a exposição. Há anos venho juntando materiais, de documentos da época da ditadura a cartas de família. Foi um verdadeiro garimpo. E ela não para: continua compondo e lançando músicas inéditas, e está terminando de escrever um novo livro infantil.
Além da exposição, como foi revisitar as músicas da sua mãe em um álbum com remix de seus sucessos? Desde pequeno, sempre gostei de atuar no estúdio. Aos 17 anos, ganhei uma vitrola e um mixer. Comecei a inventar músicas e não parei mais. Esse foi um projeto de fusão entre a vida dos meus pais e a minha. Foram cinco anos trabalhando nas fitas originais e digitalizando-as. Foi como montar um quebra-cabeça de estilos.
Em maio, sua mãe revelou que tinha um câncer. Como está a saúde de Rita Lee? Ela fuma desde cedo, né? E cigarro não faz bem à saúde. Ela sabia dos riscos. Mesmo assim, o lado positivo é que identificamos o câncer no pulmão bem no começo e conseguimos tratar. Em breve, as sessões de quimioterapia vão acabar e faremos exames para saber se deu tudo certo. Os prognósticos são de que ela ficará curada.
Aos 73 anos, como ela reagiu ao tratamento? Minha mãe nunca desistiu de lutar. É uma batalha intensa em que você reflete muito sobre tudo, inclusive a morte. Ela sempre acreditou que iria se curar. Apesar do susto, eu vi minha mãe encarando a doença de cabeça erguida. É uma característica dela, a de ser positiva. Ela sempre me disse: “Eu vou conseguir”. Esse foi o lema que adotou nesses momentos.
Como foi a vida de Rita e de seu pai, o guitarrista Roberto de Carvalho, durante a pandemia? Eles ficaram superisolados, e eu passei boa parte da pandemia morando com eles — até porque, dos três irmãos, sou o único que não tem filhos. Meu pai ficou 24 horas por dia acompanhando minha mãe em absolutamente tudo. Eles são os melhores parceiros e amigos. Foi muito bonito ver o amor deles.
Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760