IMPERDÍVEL – ‘Agnus Dei’ discute estupro e religião
Drama é baseado em fatos reais ocorridos na Polônia em dezembro de 1945










Baseado em fatos reais, ocorridos na Polônia em dezembro de 1945, o filme Agnus Dei, em cartaz no Brasil, acompanha o drama de freiras estupradas durante a II Guerra Mundial. O tema de difícil digestão serve para discutir não apenas o horror da guerra, mas também as nuances da fé. O longa gira em torno da relação das religiosas com a jovem médica da Cruz Vermelha Mathilde Beaulieu (Lou de Laâge). Ao chegar ao convento, ela descobre que várias estão grávidas e prestes a dar à luz, após terem sido violentadas por soldados russos.
A trama da diretora Anne Fontaine (a mesma de Coco Antes de Chanel) joga luz naquelas mulheres, símbolos de pureza e castidade, e exibe como a consciência delas se transformou e desmoronou após o estupro — e o pecado que elas pensam ter cometido. A confusão que se passa dentro da mente de cada uma das personagens fica visível quando elas se encontram com Mathilde. As mais variadas reações demonstram o descontrole das emoções. Uma ri quando a médica tenta examiná-la; outra se encolhe de medo, e se recusa a ser tocada. Outras acreditam que o que aconteceu foi um castigo divino, enquanto há as que veem sua crença em Deus ser completamente destruída.
O estupro das freiras, porém, não é mostrado no filme. A produção prefere focar nas consequências físicas e espirituais da violência. A tristeza dos acontecimentos é exposta de outras maneiras. Como a fotografia e o visual do filme, com cores apáticas e frias, que mostram o clima pesado e sombrio que se instaurou sobre o isolado convento. O drama é reforçado pelo confronto entre Mathilde e as freiras. Apesar de a médica, ateia, querer ajudar todas as que estão ali, sua racionalidade vai de encontro às crenças fervorosas de suas pacientes.