‘Goosebumps’, com Jack Black, valoriza público infantojuvenil
Filme assusta e diverte na medida, sem subestimar crianças e adolescentes
Há tempos o cinema hollywoodiano diminuiu, ou quase cessou, o investimento em filmes sombrios, mas divertidos, para crianças — daqueles que divertem e assustam ao mesmo tempo e podem ser vistos também por adultos. Caso de longas como E.T. – O Extraterrestre (1983) e Os Goonies (1985), ambos com o dedo de Steven Spielberg (o primeiro na direção e o segundo no roteiro, respectivamente). A falta foi sentida pelo ator Jack Black, que falou sobre o assunto em uma rápida passagem pelo Brasil nesta semana. Segundo ele, o gênero de terror infantojuvenil pode ser ressuscitado com Goosebumps: Monstros e Arrepios, seu novo filme, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira.
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A base da produção é a obra de R.L. Stine, escritor que vendeu mais de 400 milhões de livros da série Goosebumps, com histórias de terror e monstros voltadas para o público infantil. No cinema, Stine é, ele próprio, um personagem, vivido por Black. Um homem recluso, antissocial, que criou seus livros assustadores como uma reação ao bullying sofrido na infância. No filme, os textos assinados por ele são trancados com cadeados para que ninguém se aproxime. Ele também não quer ninguém perto de sua suspeita residência – muito menos de sua bela filha adolescente, Hannah (Odeya Rush).
Antes de descobrir quem é Stine e sua herdeira, o espectador é apresentado a Zach (Dylan Minnette) e sua mãe Gale (Amy Ryan), que se mudam de Nova York para a pequena Madison, em Delaware. Zach reclama da nova cidade, enquanto ainda tenta superar a recente morte do pai. Ao carregar as caixas do carro para casa, ele chama a atenção de Hannah, sua vizinha, antes de a comunicação ser interrompida pelo mal-humorado pai da jovem.
Após acompanhar de longe uma briga entre Hannah e Stine, Zach entra na casa escondido para salvar a moça. Acompanhado de seu novo amigo nerd e muito assustado Champ (Ryan Lee), o adolescente se desvia, literalmente, de armadilhas, para entrar no local e se deparar com a estante de livros “proibidos”. Um deles é acidentalmente aberto e das páginas sai, nervoso, o Abominável Homem das Neves. O trio percorre a cidade na tentativa de prender o personagem no livro, mas a confusão acaba liberando algo pior, o medonho boneco de ventríloquo Slappy (voz do próprio Black no original).
Slappy é mais risível do que assustador. Complexado pelos anos que passou trancafiado no livro, ele orquestra a libertação dos demais monstros como uma Caixa de Pandora, causando o caos na cidade interiorana. Vale destacar que os personagens assombrados não podem ser destruídos, apenas presos no papel. E Slappy, espertinho, coloca fogo nos livros para que as prisões deixem de existir.
O suspense e o terror, que assusta na medida certa, é apenas parte da boa ideia de Goosebumps. O filme mantém um ritmo intenso, sem deixar o público cair no tédio; os atores cumprem bem seu papel; e os efeitos especiais são suficientes para uma boa sessão em 3D. O principal trunfo da produção, contudo, é seu roteiro inteligente. Repleto de boas piadas, com um tempo de humor apurado, o longa não subestima o público mais jovem, passa longe do didatismo desnecessário e ainda consegue oferecer três reviravoltas no final. Em tempos de mesmice, o feito é louvável.