George Clooney: ‘Se seguirmos negando a ciência, acabaremos com tudo’
Ator falou sobre 'O Céu da Meia-Noite', filme dirigido por ele que se passa em um futuro em que a Terra é inabitável
Uma equipe de astronautas é enviada ao espaço em busca de um novo lar para a humanidade, ameaçada pela devastação da Terra. Sem contato com a base de controle, os viajantes pretendem voltar para o planeta, sem saber que a situação foi de mal a pior desde que decolaram rumo ao desconhecido. A história é o mote do filme O Céu da Meia-Noite, dirigido e protagonizado por George Clooney, que chega à Netflix no dia 23 de dezembro e em alguns cinemas pelo Brasil neste fim de semana. Na trama, Clooney é um cientista renomado e com uma doença grave, que prefere viver seus últimos dias nos confins do Ártico e tentar contato com os astronautas, enquanto outros sobreviventes fogem para abrigos — até ele descobrir uma garotinha escondida no laboratório. Em entrevista coletiva da qual VEJA participou, o diretor falou sobre o longa, e deixou a mensagem: “se seguirmos nessa lógica por uns 30 anos, ignorando a ciência, não é inconcebível que, de um jeito ou de outro, possamos acabar com tudo em algum momento”.
Misto de ficção-científica apocalíptica com drama familiar, o filme relega ao segundo plano os acontecimentos que levaram o planeta ao extremo inabitável. Ao invés disso, embrenha-se por questões sentimentais e existencialistas, retratando o ser-humano em meio a incertezas, solidão e ameaças — nada muito incomum em tempos pandêmicos. O lançamento do longa neste momento, no entanto, foi coincidência pura: o filme foi finalizado em fevereiro, pouco antes de a pandemia ganhar proporções globais. “Eu voltei das gravações na Islândia e me falaram sobre o vírus, mas que era para ficar tranquilo que só era perigoso para idosos, tipo qualquer um depois dos 54 anos”, brincou o ator de 59 anos.
Sobre a ideia por trás da produção, Clooney conta que o objetivo era explorar os sentimentos humanos, inclusive os ruins. “Quando idealizamos o filme, queríamos falar sobre o que o homem é capaz de fazer a si mesmo e à raça humana, com toda a raiva, o ódio e essas coisas que passaram a fazer parte da nossa vida, não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo”, disse o ator. O longa, porém, não demorou a ser ressignificado pelo próprio, que o enxerga agora com olhos atuais. “Quando terminamos de filmar, a pandemia começou e ficou claro que a história que estávamos desenvolvendo era sobre a nossa necessidade desesperada de estar em casa, cercado ou em contato com as pessoas que amamos, e o quão difícil pode ser se comunicar um com o outro.”
Gravidez no espaço – Um pequeno desvio no percurso deu ares esperançosos ao longa: logo no início das gravações, a atriz Felicity Jones, que interpreta Sully, uma das cientistas da equipe de expedição espacial, descobriu que estava grávida de seu primeiro filho. “Eu contei para o George e primeiro fiquei feliz de não perder o emprego, depois fiquei aliviada de poder parecer grávida e comer chocolate”, brincou a atriz durante a coletiva virtual. Passado o susto da descoberta, a gravidez de Felicity foi incorporada à trama. “A melhor versão das coisas acontece quando você as aceita e não vê isso como um problema. Uma vez que decidimos introduzir isso no filme, o bebê se transformou em um personagem”, conta Clooney, que escreveu cenas da equipe espacial escolhendo o nome para criança e fazendo ultrassons improvisados no espaço. “Eles estavam esperando por qualquer sinal de vida, e a única que eles tinham estava literalmente dentro da Felicity. A gravidez, de repente, tornou o filme muito mais esperançoso. As pessoas se perguntam se toda essa coisa de humanidade vale a pena o esforço e quando você pensa sobre uma criança, então sabe que vale”, disse o ator.
Felicity, por sua vez, destacou o papel como revolucionário. “Foi um processo especial. George abraçou a verdade do que estava acontecendo, ao invés de tentar fugir disso. Nos vemos grávidas em filmes, mas ainda é algo revolucionário, principalmente no espaço, é extraordinário”. A atriz ainda comentou que se animou em fazer o filme por ele ter um plano de fundo existencialista, mas não fugir do caráter íntimo sobre conexões humanas. “O fato de ir do macro para o micro de maneira tão brilhante é o que me animou. Mas é extraordinário como o filme se tornou relevante na situação em que estamos. Nós pensamos que estávamos fazendo apenas entretenimento e agora é quase um documentário.”
Além de uma mulher grávida no espaço, o filme ainda deu voz para a diversidade ao introduzir dois astronautas negros na equipe, interpretados por Tiffany Boone e David Oyelowo. O personagem de Oyelowo, que originalmente se chamaria Harper, teve o nome modificado para Tom Adewole a pedido do ator. “Sou muito orgulhoso das minhas origens africanas e uma equipe destinada a salvar o mundo deveria ter um africano entre eles. Eu perguntei ao George se ele estava aberto a mudar o meu nome e fizemos isso. Escolhemos um nome originário da tribo de onde eu venho na Nigéria, e significa ‘o rei entrou na casa’. Fiquei grato com isso e milhares de africanos também ficarão felizes com essa representatividade no filme”, explicou David.