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Filme ‘Rock em Cabul’ tem boa fórmula, com execução insossa

Bill Murray interpreta um empresário falastrão que tenta promover uma cantora afegã durante a guerra do país com os EUA

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 jun 2016, 09h51

Nem sempre o encontro de um diretor renomado, um elenco famoso e uma trilha sonora repleta de faixas populares dá supercerto. Rock Cabul é prova disso. O filme, estrelado por Bill Murray e dirigido por Barry Levinson, nome por trás de tramas como Bom Dia, Vietnã (1987) e Rain Man (1988), tem tantos altos e baixos que foi desancado pela crítica especializada nos Estados Unidos. Mas justiça seja feita. A produção, acusada de sexista, vazia e até ofensiva, nada mais é que insossa. Existem filmes muito piores por ai.

Assim como no popular Bom Dia, Vietnã, o diretor toma emprestada outra guerra para ambientar uma história em que a música é imprescindível. Durante o conflito entre Afeganistão e Estados Unidos, o empresário artístico Richie Lanz (Murray) vê uma chance de ganhar dinheiro levando a cantora Ronnie (Zooey Deschanel) ao país asiático para uma rodada de shows entre os soldados americanos. O problema é que a garota surta logo no primeiro dia e foge com todo dinheiro de Lanz e também seu passaporte.

Preso no país por pelo menos duas semanas, quando um novo documento ficará pronto, Lanz, com seu estilo bonachão, de óculos escuros estilo aviador e conversa furada, fica amigo de uma dupla de traficantes de armas (Scott Caan e Danny McBride), um taxista local (Arian Moayed), uma prostituta americana (Kate Hudson) e um mercenário (Bruce Willis).

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Em um acordo com os traficantes, que brincam com rolinhos de dinheiro, Lanz se envolve em uma transação que o leva a uma tribo Pachtun, onde o empresário ouve uma bela voz feminina em uma caverna. A dona da cantoria é Salima (Leem Lubany), que sonha em participar do reality musical Afghan Star, uma espécie de American Idol afegão. O programa, contudo, não aceita mulheres, muito menos uma pachtun, culturalmente proibida de cantar. Não é difícil imaginar qual caminho o filme segue a partir deste encontro entre o empresário falido e a estrela em busca de uma chance.

A primeira metade da produção corre bem. Murray se mostra o americano alienado que não imagina o estilo de vida e os perigos de um país pobre em guerra. A rápida participação de Zooey é melhor que a sensualidade destoante de Kate, que parece uma fada brilhante e libertária em meio ao cenário repressor. Bruce Willis é simplesmente Bruce Willis, como sempre.

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A segunda metade do longa se perde em uma discussão rasa sobre homens e mulheres, oriente e ocidente, fé e extremismo. Clichês tomam conta da narrativa, enquanto Shakira, coitada, toca ao fundo de uma importante cena, com a canção Whenever, Wherever, deixando tudo ainda mais sem nexo. Em um filme que exalta a música e tenta explorar a cultura local, por que não usar mais composições dos arredores da região?

É uma pena. Na vida real, o programa Afghan Star é um símbolo da porta de entrada da cultura secular no país. Sua importância é tanta que a atração ganhou um documentário homônimo em 2009, pelas mãos da diretora inglesa Havana Marking, premiado no Festival de Sundance no mesmo ano, que expõe os perigos vividos pelos artistas em busca de seus sonhos. Entre eles, algumas poucas mulheres, como Setara Hussainzada, que após participar do programa em 2008 foi ameaçada de morte por dançar no palco sem o hijab na cabeça. Pelo episódio, a moça ganhou uma dedicatória no final do filme.

Como dá para perceber, o pano de fundo era ótimo. Elenco estrelado, cenário exótico e história interessante. A fórmula era boa, pena que o diretor de Rock em Cabul perdeu a mão na execução. Nem Cat Stevens e Bob Dylan na trilha conseguem salvar a trama de seu sabor insosso.

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