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Fernanda Montenegro será imortal da ABL; veja como funciona a instituição

Academia Brasileira de Letras elege membros em votação fechada para cargos vitalícios e fornece a eles salários mensais pela representação

Por Amanda Capuano 8 out 2021, 15h51

No dia 4 de novembro, Fernanda Montenegro enfim se tornará uma imortal da Academia Brasileira de Letras, uma adição almejada há anos pelos membros da instituição. Conforme divulgado nessa semana, a atriz de 91 anos foi a única a se candidatar à cadeira de número 17, vaga em março de 2020 com o falecimento do ex-diplomata Affonso Arinos de Mello Franco. A falta de adversários à vaga foi interpretada como um sinal de respeito à Fernanda que, eleita inevitavelmente, assumirá o posto em março de 2022, quando o órgão volta do recesso de fim de ano. Mas afinal, como funciona a centenária ABL?

Inaugurada em julho de 1897, aos moldes de sua correspondente francesa, a Academia Brasileira de Letras é composta por 40 membros efetivos e perpétuos — os chamados imortais — e 20 sócios correspondentes estrangeiros. Quando um membro efetivo falece, a cadeira é declarada vaga em uma reunião denominada “Sessão de Saudade”, e os interessados em assumir o posto dispõem de dois meses para se candidatar à vaga através de carta enviada ao presidente — atualmente, o poeta e romancista Marco Lucchesi. Com as candidaturas em mãos, o novo “imortal” é escolhido mediante eleição por voto secreto, sendo necessária a presença da maioria absoluta dos membros residentes no Rio de Janeiro — obrigatoriamente 25 — na primeira assembleia. Os membros recebem um salário fixo (o valor não é divulgado) e bonificações semanais de acordo com as reuniões que comparecem. Assim, um imortal pode arrecadar até 12.000 reais mensalmente para manter o prestígio e a memória cultural brasileira.

Segundo o estatuto da instituição, “só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário”. Na prática, porém, a regra é extremamente maleável, já que dar abrigo a nomes estranhos ao meio literário é uma prática das mais arraigadas na instituição. Em carta datada de 1904, Joaquim Nabuco, um dos principais articuladores da ABL, escrevia a Machado de Assis, seu primeiro presidente: “Devemos fazer entrar para a Academia as superioridades do país (…) A Marinha não está representada no nosso grêmio, nem o Exército, nem o Clero, nem as Artes, é preciso introduzir as notabilidades dessas vocações que também cultivem as letras. E as grandes individualidades”. Machado assentia: “A sua teoria das superioridades é boa”. Assim, De 256 imortais — apenas 8 deles mulheres — escritores dignos de nota são a exceção.

A Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira perfila 60 imortais. Dos 40 fundadores, são lembrados dez. Dos dez nomes mais lembrados pelos estudiosos na literatura, apenas três assumiram o posto (Machado de Assis, Guimarães Rosa e Jorge Amado). Dos 100 mais citados, apenas 27 pertencem ou pertenceram à Academia. Um vasto levantamento empreendido pela própria ABL, para o período de 1940 a 2008, encontrou apenas 14% de imortais cuja principal ocupação era a de escritor. Outros 31% eram profissionais liberais. O típico imortal ganhava a vida no serviço público, em particular na sala de aula ou no Itamaraty. Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Vinicius de Moraes, Lima Barreto e Luis Fernando Veríssimo, por exemplo, nunca tiveram uma cadeira cativa.

Em 2021, além da cadeira 17 de Fernanda Montenegro, que será sua sétima ocupante e primeira mulher, outros quatro assentos da instituição também estão vagos. Por conta da pandemia, que interrompeu os ritos tradicionais de disciplina e votação, elas se acumularam como nunca antes. Entre os postulantes às demais vagas incluem-se nomes como Gilberto Gil, também badalado pelos membros da instituição, que, ao lado de Fernanda, deve dar a Instituição uma face mais popular. Entre os outros nomes cotados, há ainda figuras como o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, o advogado Sergio Bermudes, o linguista Ricardo Cavaliere e os escritores José Paulo Cavalcanti e Godofredo de Oliveira Neto.

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