Digital Completo: Assine a partir de R$ 9,90

Espécie ameaçada

Em 'Godzilla II', ambientalismo raso e narcisismo levam à extinção o filme clássico de criatura, que assombrava a plateia com a ideia de sua insignificância

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 16h01 - Publicado em 31 Maio 2019, 07h00

Visto pela primeira vez em um filme de 1954 dos estúdios Toho, o gigantesco lagarto mutante Godzilla brotou do trauma atômico japonês e imediatamente entrou para o vocabulário pop global: era um emblema eloquente de uma ordem natural pervertida pelas forças incontroláveis postas à solta pela arrogância humana. Godzilla II: Rei dos Monstros (Godzilla: King of the Monsters, Estados Unidos/Japão, 2019), já em cartaz no país, ilustra bem esse perigo — uma outra vertente dele. Nesta continuação do igualmente inane Godzilla de 2014, cientistas e militares se unem para libertar os “titãs” (o elenco de monstros da Toho) a fim de que façam uma faxina na Terra, superpovoada e ultrapoluída. Se eles destruírem na medida certa, raciocinam (maneira de dizer), o planeta será devolvido a um estado primal e poderá reviver. Erram de cara: dão passe livre ao invencível dragão de três cabeças Ghidorah, que não está nem aí para equilíbrio interespécies. Será Godzilla, o monstro do bem, capaz de derrotar esse monstro do mal? As facções contrárias e favoráveis aos titãs, então, unem-se para empurrar o lagarto para sua missão.

Godzilla II é péssimo e confuso, mas o que se lamenta é outra coisa — o assassinato do filme de criatura clássico, aquele que relembra a plateia de sua insignificância e a assombra com a beleza terrível de algo muito maior do que ela. Da visão ignorante da natureza à ênfase nos dramas banais dos personagens, e da fotografia escura que esconde as criaturas à empáfia com que atribui ou não utilidade a elas, Godzilla II serve como constatação de que até a soberba humana é hoje mais mixa do que no passado: a única coisa que causa espanto, aqui, é o narcisismo de uma geração que acha que não há nada, no mundo, que não possa estar a seu serviço.

Publicado em VEJA de 5 de junho de 2019, edição nº 2637

Continua após a publicidade
carta
Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
Continua após a publicidade

Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.