Em novela, Edson Celulari vive homem congelado que acorda no século XXI
Comédia 'O Tempo Não Para' substitui 'Deus Salve o Rei' na faixa das sete da Globo a partir de 31 de julho
Em 2017, Edson Celulari voltou à TV em A Força do Querer. Era um papel relativamente pequeno, mas, para o ator, foi importante a autora Gloria Perez insistir para que ele aceitasse fazer o personagem Raul Sabóia Dantas. No ano anterior, Celulari havia travado uma batalha contra o câncer, um Linfoma não Hodgkin. “Foi logo depois da quimioterapia, eu nem tinha certeza se poderia estar na novela, e a Gloria falou: ‘Quero você de qualquer jeito’. Foi muito estimulante voltar”, conta o ator. Agora, ele fala com empolgação sobre seu protagonista em O Tempo Não Para, nova novela das 7 da Globo, de autoria de Mario Teixeira, que deve estrear em 31 de julho — e tem a missão de conquistar mais simpatia do público do que a atual Deus Salve o Rei.
Já dedicado às gravações da nova trama — com locações, inclusive, na Freguesia do Ó –, Celulari interpreta Dom Sabino, patriarca da família Sabino Machado, da qual ainda fazem parte sua mulher, Dona Agustina (Rosi Campos), as filhas Marocas (Juliana Paiva), Nico (Raphaela Alvitos) e Kiki (Nathalia Rodrigues) e ainda o mascote, o cão fox terrier Pirata. O abastado clã vive na São Paulo do século XIX. Dono de vários negócios, Dom Sabino — progressista, mas também imperialista — amplia seu campo de atuação com a compra de um estaleiro na Inglaterra. E decide levar a família, além dos escravos e funcionários, para conhecê-lo.
Partem de navio, o Albatroz, rumo à Europa, mas um desvio na rota pela Patagônia — sugerido por Dom Sabino para fazer o caminho de Darwin — culmina em um acidente: a embarcação colide com um iceberg e família fica congelada, assim como os escravos Damásia (Aline Dias), Cairu (Cris Vianna), Cesária (Olivia Araujo), Menelau (David Junior) e Cecílio (Maicon Rodrigues), o guarda-livros Teófilo (Kiko Mascarenhas), a preceptora Miss Celine (Maria Eduarda de Carvalho) e o jovem Bento (Bruno Montaleone). Alguma semelhança com Titanic? “O Titanic foi uma tragédia de fato, no meu caso, é uma comédia. Até o momento do naufrágio vai ser divertido, tanto que vai culminar no nonsense do congelamento”, explica Teixeira.
Isso tudo se dará já no primeiro capítulo. E a graça da história começa a partir daí: o bloco de gelo onde todos ficaram congelados chega ao litoral paulista 132 anos depois do acidente e eis que eles despertam em pleno século XXI. E o choque diante dos novos tempos desencadeará uma série de situações engraçadas, mas que também trazem críticas no subtexto.
“Tudo aquilo que se avançou na tecnologia será surpreendente. Acho que o que vai ser colocado em questão é o comportamento, de alguma forma, isso surpreenderá a família Sabino”, comenta o ator. “Tem um momento em que ele pergunta: ‘Como está a capital, o Rio de Janeiro?’. E respondem: ‘Não é mais o Rio, agora é Brasília’. Ele diz: ‘Eu tive uma escrava de nome Brasília, mas ela não gostava de trabalhar, era preguiçosa’. É uma cena de comédia, mas é um comparativo. A gente tem um ano muito conturbado, e chega uma novela com essa leveza e essa proposta de temas, de uma forma não farsesca, numa linguagem realista e para divertir e fazer pensar.”
A grande surpresa da família, reforça Teixeira, “é ver que o ser humano não mudou absolutamente nada”. “É sempre o mesmo, os vícios sociais continuam iguais, traçam paralelos o tempo todo com as mazelas do país, tem uma crítica de costumes que é muito forte. Vou tratar disso o tempo todo”, conta. “Vai ser uma novela engraçada, e não tem nada mais divertido do que rir dos costumes, do que fazer crítica através do humor, porque a risada lança luz sobre as coisas. Eles vão se surpreender, por exemplo, com o trânsito: ‘Como assim, essas carruagens levam uma só pessoa?’. Quando veem os engarrafamentos monstruosos na marginal. Vai ter essa crítica o tempo todo, de forma divertida.”
Autor de novelas como Liberdade Liberdade, Mario Teixeira se inspirou em algumas leituras, como de O Dorminhoco, de H. G. Wells, para falar sobre essa viagem no tempo sem máquina feita por seus personagens. Aliás, o ser humano tem uma antiga obsessão em querer controlar o tempo, não? Ele concorda. “A gente está sempre tentando vencer o tempo. Tudo o que a gente tenta, um escritor, um poeta, é sobreviver ao tempo. Isso é que as pessoas querem no fundo. Ninguém quer ficar doente, ninguém quer envelhecer, mas todo mundo quer viver para sempre. Envelhecer é uma arte.”
O Tempo Não Para marca ainda o retorno de Celulari ao exercício da comédia. E, aos 60 anos de idade e 40 de carreira, o ator diz que sua maneira de pensar, de ver o mundo, enfim, de viver, mudou após a lutar contra o câncer.
“Repensei muita coisa, refiz a lista de prioridades. Quando voltei em A Força do Querer, entrei no estúdio que eu tinha inaugurado com uma novela, Explode Coração, também da Gloria, vi aquelas pessoas, é meu ofício, é aquilo o que faço há tantos anos”, conta. “Você começa a reavaliar toda a sua vida, como você percorreu seus caminhos, é uma revisão geral. E isso é uma grande oportunidade, porque tive de ficar fazendo as sessões de quimioterapia e passando por esse ciclo, ao mesmo tempo, aguardando resultado. Você lida com a finitude, com a possibilidade da morte. Isso te amadurece, te faz melhor. Acho que saí melhor.”