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Em disco enérgico, Francisco, el Hombre desponta como promessa do Carnaval

Em 'Casa Francisco', terceiro álbum de estúdio, banda alternativa acena para um Brasil que emerge da pandemia – sem deixar de lado sua veia política

Por Tamara Nassif 5 nov 2021, 10h46

Isolados em casa durante a pandemia, os membros da banda brasileira Francisco, el Hombre queriam criar mais uma camada de isolamento – mas sem que, de fato, se sentissem ainda mais ilhados. A expressão para o objetivo contraditório surgiu de uma conversa sem muita pretensão: e se criassem uma espécie de reality que exibisse o dia a dia do grupo, em processo de composição de um novo disco? Acharam em Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo, uma casinha amarela, e assim surgiu Casa Francisco, nome que dá título tanto ao programa voyeurístico, exibido no YouTube, quanto ao terceiro álbum recém-lançado. Sentados em frente a uma porta entreaberta, o baterista/vocalista Sebastián Piracés-Ugarte (ou Sebastianismos, como gosta de ser chamado nas redes) e a baixista Helena Papini receberam VEJA para uma conversa via Zoom, agasalhados até o pescoço contra o vento cortante do inverno fora de época. Embora não dê para ver muita coisa da fresta da porta, ela guarda uma metáfora: “Casa Francisco é um convite para que as pessoas entrem na nossa intimidade e se sintam à vontade”, diz Helena. “Estamos com as portas de casa abertas.”

Mais do que receptiva, a banda está pronta para dar uma festa. Descrito por eles como o “mais Francisco de todos”, o novo disco consolida a boa fusão de música latina característica do quinteto, que passa pelo MPB, pop, punk e folk. É a energia do (esperado) Carnaval em estado bruto.

Formada por cinco membros – soma-se à dupla Juliana Strassacapa, Andrei Kozyreff e o irmão de Sebastian, Mateo Piracés-Ugarte –, a campinense Francisco, el Hombre, formada em 2013, vibra alto-astral, suingue latino-americano e muita politicagem. Dona do hit Triste, Louca ou Má, de 32 milhões de visualizações no Youtube e 26 milhões no Spotify, a banda se tornou expoente de uma nova onda de músicas de protesto com Bolso Nada, quando Jair Bolsonaro ganhava espaço no discurso política rumo à presidência, em 2016. Diferentemente do período do regime militar, quando as letras driblavam a censura, as canções do grupo hoje dão nome aos bois em versos enraivecidos – e dançantes. No caso do “hino” antibolsonarista, os versos levam inclusive palavrões sem muito pudor (“Mesquinhez e intolerância, bolso nada que pariu”, canta o pré-refrão).

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DISCO - Casa Francisco, de Francisco, el Hombre (disponível nas plataformas de streaming)
DISCO – CASA FRANCISCO, de Francisco, el Hombre (disponível nas plataformas de streaming) (./.)

“Fico com sentimentos misturados quando penso que se tornou um hino de resistência. Preferiria que essa música ficasse desconhecida, assim como ele era lá em 2016”, diz Sebastian. Tanto Bolso Nada quanto Triste, Louca ou Má pertencem ao colérico disco de estreia Soltasbruxa, que ditou o tom da banda para os projetos seguintes. O Rasgacabeza, de 2019, veio embebido nas tensões do pós-eleição. No disco mais recente, o viés político vem mais leve, vestido como esperança para tempos melhores. 

“Nossa ideia é transformar. Estamos abraçando os nossos, convidando quem ainda não se entende como ‘nosso’ e abrindo as portas de casa”, explica Sebastian, ao que Helena complementa: “E cantando que as flores resistem à tempestade e que a primavera não pode ser contida”, em trocadilho ao single Nada Conterá a Primavera, marcado por ritmos de salsa, mambo e jazz latino-americano. Na dançante Solo Muere El Que Se Olvida, celebram a vida em uma festa cantada exclusivamente em espanhol. A veia latina, aliás, é pulsante: de origem mexicana, Sebastian e o irmão Mateo cantam no idioma natal em boa parte das músicas. Não só querem que a família entenda o que dizem, mas também que o público repense o consumo automático da cultura norte-americana. 

Perguntados se 2022 vai resgatar a conhecida cólera da Francisco, el Hombre, Helena e Sebastian se entreolham e erguem as sobrancelhas. “Aguardem”, dizem, sucintamente.

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