Em aceno à diversidade, Oscar premia mais negros e mulheres
Vitória de 'Green Book' como melhor filme indica tentativa da Academia de Hollywood de acertar o desequilíbrio racial da indústria cinematográfica
Foram poucas as surpresas na entrega do Oscar deste ano. Mas a premiação andou alguns passos em relação a edições anteriores. Este foi o Oscar com maior número de estatuetas levadas por negros e mulheres, sete e quinze, respectivamente. E três delas por mulheres negras: Ruth Carter (melhor figurino por Pantera Negra), Hannah Beechler (direção de arte também por Pantera Negra) e Regina King (atriz coadjuvante em Se a Rua Beale Falasse).
A vitória de Green Book na disputa de melhor filme indica uma tentativa da Academia de acertar o desequilíbrio racial da indústria cinematográfica. Um movimento suave demais, porém: o filme do diretor Peter Farrelly é um passeio quase literal pelas distâncias que separam negros e brancos nos Estados Unidos (o protagonista é um ítalo-americano).
Green Book também venceu nas categorias ator coadjuvante (Mahershala Ali, que levou o mesmo troféu há dois anos por Moonlight) e roteiro original, ainda que a família do personagem negro tenha apontado muitas inverdades na comparação do filme com a história verídica em que é baseado.
Já Inflitrado na Klan, uma denúncia escancarada e bem-humorada — como só Spike Lee sabe fazer — da força e atualidade do racismo nos Estados Unidos, levou apenas o troféu de melhor roteiro adaptado.
Protagonista de um dos pontos altos e mais aplaudidos da noite, Spike Lee lembrou que já foi muito mais difícil para um negro e questões ligadas ao racismo americano chegarem tão perto da Academia. Em sua fala, o diretor lembrou que Faça a Coisa Certa, uma de suas obras-primas, não chegou a ser indicado em 1989, ano em que a estatueta principal foi para Conduzindo Miss Daisy, outro longa acusado de colocar panos quentes na dura realidade racial nos Estados Unidos.