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Doçura apimentada: Phoebe Bridgers pede passagem com rock feminista

Apesar do jeito meigo, a americana é a fera à frente de uma nova geração de roqueiras que fincaram a bandeira do MeToo no Grammy

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h02 - Publicado em 4 dez 2020, 06h00

Em seu álbum de estreia, Stranger in the Alps (2017), a cantora Phoebe Bridgers mandava um duro recado a alguém. “Eu o odeio pelo que você fez / E sinto sua falta como uma criancinha”, disparava a americana em Motion Sickness. Seu alvo era o compositor Ryan Adams. No início da carreira, Phoebe foi pupila do artista e teve um relacionamento com ele, vinte anos mais velho. Em 2019, ao lado da atriz Mandy Moore, ela engrossaria o coro de sete mulheres que denunciaram Adams por assédio e abuso psicológico. As letras sombrias daquele primeiro disco, calcadas no indie, folk e emo, se mantiveram em seu segundo trabalho, Punisher. Lançado em junho deste ano, o disco pungente confirma Phoebe, de 26 anos, como o principal talento à frente de uma geração de cantoras perfeitamente sintonizadas com o espírito do movimento MeToo. O disco levou à sua indicação a quatro categorias do Grammy 2021, incluindo a de melhor performance de rock. Isso, em um ano especial: pela primeira vez desde 2012, quando a instituição eliminou a distinção de gênero, só mulheres foram indicadas na seara outrora dominada pelos marmanjos.

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Phoebe tem um ar de mocinha doce — mas é só aparência. A melancolia de suas canções contrasta com o humor escrachado que ela exibe em redes sociais e entrevistas. Sobre as indicações femininas ao Grammy, destilou sarcasmo contra o jornal The New York Times: “É engraçado e chocante porque, provavelmente, em algum momento todos já foram homens em todas as premiações”. Nascida na Califórnia, Phoebe fez parte de uma banda indie feminina, a Boygenius, antes de seguir carreira-solo. Hoje, é a mais notória expoente de um grupo de garotas com menos de 30 anos — como Sophia Allison e Lindsey Jordan — que está renovando o rock’n’roll. Essas artistas deixam de lado temas banais para investir em letras mais sérias que, por vezes, alertam sobre as doenças mentais, a depressão e o suicídio. “Estou fazendo um novo tipo de terapia, e muitas memórias estão voltando”, já confessou. Quem disse que guitarra é coisa de menino? Durma com essa, Ryan Adams.

Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716

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