De Olivia Colman a Meryl Streep: as operárias incansáveis de Hollywood
Uma curiosa elite de estrelas veteranas trabalha muito, apesar do prestígio — e a causa está no bolso
Quem repara nos filmes da franquia Velozes e Furiosos presentes no currículo de Helen Mirren não imagina como a prestigiosa atriz britânica foi parar ali: pedindo — em suas palavras, implorando — para o fortão Vin Diesel. “Eu nunca tinha feito um daqueles filmes gigantescos. Adoro dirigir e queria pilotar sozinha um carro veloz”, confessou. Aos 78 anos, Mirren adicionou mais um item à lista de primeiras vezes neste ano, ao estrelar um filme de super-heróis: Shazam! Fúria dos Deuses. Nos últimos meses, também apareceu na série 1923, ao lado de Harrison Ford, e emprestou sua voz à narradora sarcástica do sucesso Barbie. Ainda em agosto, vai viver nas telas a primeira-ministra israelense Golda Meir. São, ao todo, dez produções desde 2020. Com quase seis décadas de carreira e dona de um Oscar por A Rainha (2006), a veterana não dá sinais de desacelerar, e é sincrética na hora de dizer sim a uma personagem, alternando dramas políticos sérios com blockbusters.
In the Frame: My Life in Words and Pictures
Mirren é expoente de uma turminha aplicada de Hollywood: as atrizes que estão sempre ocupadas e, embora desfrutem de imenso prestígio, nem por isso se tornaram enjoadas nas escolhas de seus papéis. A conduta é a mesma da inglesa Olivia Colman, 49, e da australiana Toni Collette, 50. A conquista da estatueta de melhor atriz por A Favorita, no Oscar de 2019, marcou o início de uma fase próspera para Colman: desde 2020, já são quase vinte filmes, séries e dublagens em animações. Já Toni Collette, ainda que não tenha sido contemplada com o cobiçado prêmio, alcançou sua reputação com personagens antológicas em O Sexto Sentido (1999) e Hereditário (2018). Nos últimos meses, lançou duas comédias popularescas, Mafia Mamma e Guerra entre Herdeiros, em cartaz no país. Tanto ela quanto Colman empenham parte de seus esforços no streaming, usufruindo a oportunidade para manter a relevância para além do cinema — e, de quebra, acumular uma bufunfa.
HELEN MIRREN
Trabalhos desde 2020: dez
A inglesa premiada com o Oscar por A Rainha (2006) é para lá de sincrética em suas escolhas: vai de Shazam! a Velozes e Furiosos (foto)
Best Actress: The History of Oscar-Winning Women
Em um movimento ligeiramente distinto, a brilhante Meryl Streep não assume grandes papéis há alguns anos. Aos 74, a americana é detentora de três Oscars, de um total de 21 indicações — número jamais alcançado por outro ator na premiação. Mais exigente que as colegas, Meryl aposta em participações de luxo, preferindo emprestar seu talento a tramas engajadas em causas sociais (a exemplo da sátira sobre o negacionismo climático Não Olhe para Cima, da Netflix) ou programas cultuados no meio televisivo, como a série Only Murders in the Building, na qual faz uma ponta crucial na recém-lançada terceira temporada. A atriz recebe coisa de 800 000 dólares para dar o ar da graça em cada episódio — valor que cobrou em Big Little Lies, da HBO, de 2018 — e tem o hábito de doar parte de seus salários para causas filantrópicas.
TONI COLLETTE
Trabalhos desde 2020: dez
A australiana é exemplo de versatilidade nas telas, indo do terror às comédias popularescas — como Guerra entre Herdeiros, em cartaz no país
Her Again: Becoming Meryl Streep
Apesar de hoje lograrem de liberdade para selecionar seus trabalhos, essas figuras estão submetidas a uma indústria bilionária em que aquilo que dá moral nem sempre enche o bolso. E, no fim do dia, todas querem ganhar tanto dinheiro quanto reconhecimento. Vale apontar que, mesmo se tratando de alguns dos nomes femininos mais aclamados de Hollywood, nenhuma das quatro atrizes tem aparecido nas listas das mais bem pagas dos últimos anos. Meryl, de novo, é uma exceção pontual: a americana apareceu na quinta posição do ranking feito pela Forbes em 2020, pela fatura de 24 milhões de dólares por três filmes. Na época, ela havia passado oito anos ausente da lista. A vida de uma operária da tela não é moleza.
Publicado em VEJA de 11 de agosto de 2023, edição nº 2854
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