Houve um tempo pré-histórico, muito antes das redes sociais, sem Instagram nem TikTok, no qual o melhor modo de ver e ser visto era frequentar uma das duas dezenas de casas noturnas da empresária francesa Régine Zylberberg, depois Choukron, mas que se tornou conhecida mesmo apenas pelo primeiro nome, Régine — associado a um apóstrofo e um “s”, virou uma marca inescapável dos anos 1970 e início dos 1980. O Régine’s do Rio de Janeiro, São Paulo, Nova York e Paris, e de tantas outras grandes cidades, rapidamente virou sinônimo de vida noturna, amores e dissabores, champanhe e cocaína, palco de alguns poucos desconhecidos e muitas celebridades — celebridades reais, e não as subcelebridades alimentadas por reality shows bocós, hoje tolamente chamadas de influencers.
Numa única noite do Régine’s nova-iorquino, instalado no Delmonico Hotel, onde aliás ela morava, era possível esbarrar em Yves Saint Laurent, Karl Lagerfeld, Mick Jagger, Anthony Quinn, Brooke Shields, Andy Warhol e Pelé no tempo do Cosmos, leve e faceiro. No Rio de Janeiro, as madrugadas do jet set avançavam no subsolo do Hotel Méridien, no Leme, em meio a doses estratosféricas de Veuve Clicquot e Moët & Chandon. A receita, segundo um amigo próximo, Frédéric Mitterrand, sobrinho do ex-presidente francês e ex-ministro da Cultura: “80% de ricaços, 10% de famosos e 10% de jovens bonitos”. Ao desembarcar no Brasil, no Carnaval de 1974, Régine foi recebida com pompa e circunstância e não perdeu tempo ao revelar seu poder de atração, a proximidade de personalidades aparentemente inalcançáveis. “Aristóteles Onassis só bebe Coca-Cola e adora olhar os pés das pessoas. Marlon Brando é sofisticado, mas fingido. Brigitte Bardot não quer que o público a veja envelhecer. Sophia Loren está sempre representando um papel e faz isso muito bem”, disse em entrevista para a extinta revista Manchete.
Régine era muitas. Em Paris, trilhara carreira de sucesso como cantora, além do trabalho empresarial. Acordava cedo, dormia muito pouco, era perfeccionista. Podia ser a um só tempo divertida, ao contar histórias de bastidores, e seriíssima nos negócios. No Brasil, virou a “rainha da noite” em oposição a seu inimigo íntimo, Ricardo Amaral, “o rei da noite”, criador de outros dois ícones das pistas, as boates Papagaio Disco Club e Hippopotamus. Ela morreu em 1º de maio, em Paris, aos 92 anos, de causas não reveladas pela família.
O rei dos paparazzi
O fotografo americano Ron Galella era a personificação de um paparazzo — a palavra italiana tornada célebre pelo personagem Signore Paparazzo, do filme La Dolce Vita, de Federico Fellini, caçador obstinado de imagens proibidas. Galella perseguiu implacavelmente Jacqueline Kennedy Onassis, até que um juiz o impediu de se aproximar da ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Importunou Marlon Brando, a quem queria registrar sem óculos escuros, até que o ator lhe deu um soco no queixo. Ganhava dinheiro ao vender seus registros para jornais e revistas. Era temido, estrangulado por agentes de segurança, mas o tempo lhe daria alguma razão. As fotografias de Galella definem um tempo, a passagem dos anos 1960 para os 1970, da transformação de atrizes e atores, cantoras e cantores em superestrelas inescapáveis. Ele morreu em 30 de abril, em Montville, nos Estados Unidos, aos 91 anos, de insuficiência cardíaca.
Publicado em VEJA de 11 de maio de 2022, edição nº 2788
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