O jornalista, escritor, tradutor e dramaturgo carioca Artur Xexéo tinha o raro dom de entender o que ia no coração e na mente de quem o acompanhava, e sempre com inteligência e refinada ironia. “Tudo o que eu faço, o que eu edito, o que eu escrevo, é em nome do leitor”, disse numa entrevista. “Então, eu acho que ele tem o direito de reivindicar, de gostar, de não gostar, de reclamar, de escrever, de se colocar, de se posicionar. Eu gosto de participar dessa troca.” Colunista do jornal O Globo e comentarista da rádio CBN e da GloboNews, depois de bem-sucedidas passagens pelo Jornal do Brasil e por VEJA, Xexéo era uma das referências incontornáveis do jornalismo cultural no país. Atento ao cotidiano, de permanente olhar crítico, evidentemente seguiu nas minúcias a pandemia e tudo o que o governo federal fez de errado. De uma de suas colunas: “A gente acreditava que a vacina seria a nossa salvação. Ledo engano. A vacina está aí, e agora a gente descobriu que nosso maior inimigo nesta pandemia não é o coronavírus, mas o vírus da ignorância que se espalha a partir de Brasília. Contra este, tudo indica que a vacina ainda vai demorar dois anos”.
Trabalhador incansável, de atravessar madrugadas em claro, Xexéo escreveu livros como Janete Clair: a Usineira dos Sonhos e Hebe: a Biografia. A partir de sua parceria com Carlos Heytor Cony na CBN, escreveu Liberdade de Expressão, algo que sempre prezou. Desde 2015 fazia comentários na cerimônia de entrega do Oscar, na Rede Globo. Deixou inacabado diversos projetos, entre eles a biografia do autor de novelas Gilberto Braga, que seria lançada pela editora Intrínseca. “Ele foi o mal-humorado mais engraçado e espirituoso que conheci na minha vida”, resumiu o colega Ancelmo Gois. Há duas semanas, ele fora diagnosticado com um linfoma do tipo não Hodgkin. Internado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, fez a primeira sessão de quimioterapia, mas teve uma parada cardiorrespiratória na sexta-feira 25. Morreu no domingo 27. Xexéo tinha 69 anos.
O estrategista americano
Nos Estados Unidos, havia um modo de estabelecer a dimensão de Donald Rumsfeld, secretário de Defesa de dois presidentes republicanos, Gerald Ford (de 1975 a 1977) e George W. Bush (de 2001 a 2006): ele foi o mais influente servidor público no posto desde Robert McNamara, durante a Guerra do Vietnã. Rumsfeld foi a liderança estratégica nos conflitos no Afeganistão e no Iraque. Debaixo de seu guarda-chuva, as Forças dos EUA rapidamente derrubaram o presidente iraquiano Saddam Hussein, mas não conseguiram manter a lei e a ordem depois disso, e o Iraque caiu no caos com uma revolta sangrenta e violência entre muçulmanos sunitas e xiitas. As tropas americanas permaneceram no Iraque até 2011, muito depois de ele deixar seu posto. Morreu aos 88 anos, em Taos, no Novo México, em 29 de junho. A causa foi um mieloma múltiplo.
Publicado em VEJA de 7 de julho de 2021, edição nº 2745