O carioca Arnaldo Jabor seguiu trilha semelhante a de seus pares da nouvelle vague francesa como François Truffaut e Jean-Luc Godard, que começaram a vida como jornalistas, na posição de críticos, e depois migraram para o cinema — a diferença é que o brasileiro, atropelado pelo vergonhoso descaso do governo de Fernando Collor com a cultura, no início dos anos 1990, teve de abandonar as câmeras para voltar a escrever. Jabor, mais conhecido como ácido comentarista da Rede Globo e do jornal O Globo, uma das vozes mais inteligentes e ferinas contra os desmandos do PT na Presidência da República, merece ser lembrado por seus filmes, indeléveis.
Toda Nudez Será Castigada, obra-prima de 1973, é a mais competente adaptação de Nelson Rodrigues para as telas, retrato amargo do moralismo bocó de parte da classe média. Poucos cineastas sabiam lidar simultaneamente e tão bem com o ritmo, a montagem e a edição musical de seus trabalhos — além de ter domínio total dos atores, como maestro. Não por acaso, Fernanda Torres recebeu o prêmio de melhor atriz em Cannes por seu papel em Eu Sei que Vou Te Amar, de 1986. Eu Te Amo, de 1981, era uma ode à sensualidade à flor da pele, com Sonia Braga. Ao alinhavar as duas pontas de sua carreira, ele disse: “As coisas que eu escrevo têm algo do cinema. Porque eu sou meio ator de televisão também. Tem uma coisa de cinema no sentido de que é a tentativa de captar o que é que está por trás da notícia óbvia”. Jabor morreu em 15 de fevereiro, em São Paulo, aos 81 anos, em decorrência de um AVC.
O riso nas telas
Quem não se divertiu à beça e vibrou como criança com os filmes do diretor americano Ivan Reitman devia estar no mundo da lua — ou então sofria de mau humor incurável. Os Caça-Fantasmas, de 1984, praticamente inventou um gênero de comédia — a um só tempo discreta e abilolada, de gargalhar. São dele outros pequenos clássicos do cinema, como Irmãos Gêmeos (1988) e Um Tira no Jardim da Infância (1990), nos quais pôs o improvável e fortão Arnold Schwarzenegger em postura delicada e sensível. Reitman morreu em 12 de fevereiro, em Montecito, na Califórnia, aos 75 anos, de causas não reveladas.
Publicado em VEJA de 23 de fevereiro de 2022, edição nº 2777