Datas: Angelo Badalamenti, Dorothy Pitman Hughes e Jonas Abib
O compositor, a ativista e o monsenhor

Nos últimos dias, um vídeo antigo que voltou a circular nas redes sociais trazia a imagem do compositor americano Angelo Badalamenti ao piano. Ele conta na gravação como o cineasta David Lynch, sentado ao seu lado, ia narrando cenas do que viria a ser a série Twin Peaks enquanto Badalamenti tocava, tentando captar a emoção de cada momento. Ao final da sessão, Lynch levanta e dá um abraço no músico: “Não mude nada. Isso é Twin Peaks, eu consigo ver”. Trata-se de uma pequena amostra dos bastidores de uma das mais longevas e prolíficas parcerias entre diretor e compositor. Badalamenti fez a trilha de todos os grandes clássicos da carreira de Lynch, como Veludo Azul e Cidade dos Sonhos, e soube traduzir em sons de enorme beleza a narrativa onírica e por vezes surrealista do cineasta. Sua carreira estendeu-se por muito tempo. Como compositor, escreveu para David Bowie e Nina Simone, entre outros, e criou o tema de abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. Foi arranjador talentoso, disputado por nomes como Paul McCartney e Marianne Faithful, e colaborou com inúmeros outros, da banda de metal Anthrax à Filarmônica de Bruxelas. Sua marca registrada, contudo, foi mesmo o cinema. O reconhecimento veio ainda em vida, com diversos prêmios recebidos por sua contribuição às trilhas sonoras. Badalamenti morreu no domingo 11 em sua casa, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, aos 85 anos, de causas naturais.
Pioneira do feminismo negro

Em 1971, em meio à chamada segunda onda do movimento feminista, a ativista americana Dorothy Pitman Hughes estampou um dos retratos mais icônicos do movimento. Ela e a amiga e companheira de luta Gloria Steinem aparecem com os punhos erguidos em referência aos Panteras Negras, e a imagem simbolizou uma parceria que ajudou a levar conceitos de raça, classe e gênero a uma parcela crescente da população americana. Juntas, as duas viajaram pelo país para falar com mulheres sobre as demandas do movimento. Nos últimos cinquenta anos, defendeu outras causas, como o bem-estar das crianças e o direito à educação. Hughes morreu em 1º de dezembro em sua casa, em Tampa, na Flórida, aos 84 anos, de razões naturais, mas a notícia só veio a público nesta semana.
Sacerdote e comunicador

Com uma rádio de alcance nacional, uma emissora de televisão, forte presença na internet e uma editora de livros, a Comunidade Canção Nova foi a maior criação do sacerdote católico e músico monsenhor Jonas Abib. Seu objetivo ao lançar o projeto, em 1978, era evangelizar as pessoas usando os meios de comunicação de massa, algo inovador para sua época. Além de comunicador carismático e hábil com as palavras, foi pioneiro da música católica popular brasileira. Em pouco mais de trinta anos de carreira, lançou cerca de vinte discos. Escreveu livros e presidiu os negócios do grupo sem abdicar do trabalho sacerdotal. Morreu na segunda 12, em Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo, aos 85 anos, de insuficiência respiratória.
Publicado em VEJA de 21 de dezembro de 2022, edição nº 2820