Daniela Mercury: “Fui vítima de vídeos criminosos”
A cantora diz que vai processar filho do presidente após ele divulgar gravação antiga manipulada para dar a impressão de que ela chamava Jesus Cristo de gay
Como reagiu quando soube que o deputado Eduardo Bolsonaro divulgou recentemente um vídeo com uma fala sua de três anos atrás, editado para parecer que a senhora chamava Jesus Cristo de gay? Fiquei indignada com a má-fé, a maldade e a desonestidade do uso de um vídeo adulterado. Estou pedindo indenização na Justiça pelos graves danos que isso me causa pessoalmente. Também me repugnam a deterioração do debate público, a fraude e o uso da mentira para promover uma ideia, qualquer que seja. Não é civilizado, e é covarde.
A senhora tem receio de que o vídeo em questão prejudique sua carreira? O objetivo de quem usa fake news é levar vantagem promovendo a desgraça alheia. É o novo jeitinho. Precisamos reagir com a verdade, com a elevação do debate público, com o diálogo entre quem pensa diferente. Tenho certeza de que esse vídeo prejudica minha carreira, gera ataques contra mim e grandes prejuízos financeiros. O vídeo foi fraudado para parecer que eu estava sendo desrespeitosa com os cristãos. Nas eleições passadas fui vítima de vários vídeos criminosos como esse. Não quero que isso aconteça de novo.
Como é a sua relação com a fé? Sou uma pessoa de fé, mas não posso impor a minha fé aos outros. É preciso respeitar a liberdade religiosa de cada um, do mesmo modo que é fundamental respeitar a liberdade artística.
Após assumir sua homossexualidade, a senhora se transformou em uma notória ativista. Qual é a importância dessa militância para você? O nosso casamento (com a jornalista Malu Verçosa) trouxe a discussão sobre orientação sexual para dentro das famílias e ajudou a diminuir a discriminação contra os LGBTQIAP+. Meu ativismo tem incentivado outros artistas a falar publicamente sobre sua sexualidade e a compreender o amor entre casais do mesmo sexo.
Artistas como Anitta e Taís Araujo se posicionaram contra o governo Bolsonaro. A senhora tem intenção de se somar ao engajamento dessas artistas? Pretendo me engajar na campanha para lutar por políticas públicas e pelos direitos humanos dos mais frágeis. A situação dos brasileiros está muito ruim. Precisamos enfrentar a desigualdade. É preciso tirar o atual presidente. É a urgência do agora. Nesta eleição, eu votarei em Lula e manterei minha posição crítica, como artista e membro da sociedade civil, e continuarei exigindo de qualquer governante boas políticas públicas para todos.
Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786