Daniel sobre parceria com João Paulo: ‘O preconceito não nos parou’
Ao celebrar quarenta anos de carreira, ele lança projeto em homenagem ao antigo colega de dupla, morto em um acidente de carro em 1997

A dupla João Paulo & Daniel estourou na onda do sertanejo romântico dos anos 1990. O que os levou a se destacar dentre tantos outros artistas que despontaram na época? A simplicidade era a nossa marca. A gente cantava direitinho, trabalhávamos com seriedade. Não éramos irmãos, como as outras duplas, mas vivíamos como irmãos. Também chamou a atenção ser um branquinho e o outro, moreno. Éramos diferentes.
Além de unir um branco e um negro, havia também a diferença de classes sociais entre vocês: João Paulo vinha de uma condição mais humilde que a sua. Essas distinções chegaram a ser um problema? Ao longo do caminho, a gente viu o preconceito, mas não demos peso a ele. O preconceito não nos parou. Acho até que, sem nem pensar nisso, nossa parceria passava uma mensagem de união, né? De que somos todos iguais. A gente vai para o mesmo lugar no fim. E estamos aqui para somar um ao outro. Sozinho, a gente não chega a lugar nenhum.
Em 3 de maio começa, em Brotas (SP), sua cidade natal, a turnê Daniel 40 Anos Celebra João Paulo & Daniel, que vai contar com a presença da filha de João Paulo, Jéssica Reis. Como é sua relação com a família do antigo parceiro? Somos próximos, e ter a Jéssica cantando comigo nesse projeto é um presente. Eu me considero um pouco pai dela. É como ver um pedaço do João Paulo comigo.
Vinte e seis anos após o acidente, ainda corre na Justiça o pedido de indenização da família à BMW, alegando que havia um defeito de fábrica no carro. Como avalia o caso? Olha, esse assunto é delicado e eu não me envolvo muito. Acompanho lendo as notícias, como todo mundo. Foi uma fatalidade e, tecnicamente, não sabemos o que de fato aconteceu. Infelizmente, nada pode trazê-lo de volta.
O sertanejo hoje é dominado pela sofrência, especialmente a temática da traição. O romantismo que o fez famoso morreu? Jamais. Falar de amor nunca vai ser demais. Mesmo quando não dá certo, né? Nem todo amor é para sempre. É comum que a gente queira se render às tendências musicais, mas falar de amor romântico é parte da minha essência. A música precisa ter qualidade e tocar as pessoas. Caso contrário, não tem razão de ser.
Publicado em VEJA de 26 de abril de 2023, edição nº 2838