Como o uso de inteligência artificial causou um problema no Prêmio Jabuti
Finalista da categoria ilustração havia utilizado tecnologia para produzir as artes do livro 'Frankenstein' e foi desclassificado
O Prêmio Jabuti desclassificou o ilustrador Vicente Pessôa — anunciado como semifinalista da categoria ilustração — após a descoberta de que o designer havia usado inteligência artificial para produzir as artes de uma edição do livro Frankenstein. A decisão foi tomada nesta sexta-feira, 10, e os indicados da premiação promovida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) tinham sido divulgados na quinta, 9. O Jabuti é a mais tradicional honraria da literatura brasileira.
Publicada pelo Clube de Literatura Clássica, a edição de Frankenstein — de Mary Shelley (1797-1851) — teve sua capa e artes do miolo feitas por uma ferramenta de IA chamada Midjourney. Na rede social X (antigo Twitter), André Dahmer, um dos jurados do prêmio, explicou o processo de seleção dos finalistas e ressaltou que, durante sua avaliação dos candidatos, não fazia ideia de que Pessôa tinha utilizado o Midjourney — que assina como autor junto com o ilustrador nos créditos da ficha da obra. “Não conheço os nomes de ferramentas de inteligência artificial, nem quero conhecer. A organização do prêmio, ao me enviar o livro, também desconhecia o nome desta ferramenta. Outro jurado, Baptistão, também não sabia que avaliava um trabalho híbrido”, escreveu Dahmer. O cartunista também alegou que teria analisado Frankenstein com outro olhar se soubesse sobre a IA.
Bom dia. Fui um dos três jurados na categoria Ilustração do Prêmio Jabuti deste ano, que avaliava os semifinalistas. Frankenstein, ilustrado por Vicente Pessôa com auxílio de Inteligência Artificial, está agora entre os finalistas. Isso merece um fio (+) pic.twitter.com/XlMh6GNqx6
— André Dahmer (@malvados) November 10, 2023
Em um comunicado divulgado nesta sexta, a CBL explicou sua decisão. “As regras da premiação estabelecem que casos não previstos no regulamento sejam deliberados pela curadoria, e a avaliação de obras que utilizam IA em sua produção não estava contemplada nessas regras. A utilização de ferramentas de inteligência artificial tem sido objeto de discussão em todo o mundo, em razão dos princípios de defesa dos direitos autorais. Considerando a nova realidade de avanços dessas novas tecnologias, a organização do prêmio esclarece que a utilização dessas novas ferramentas será objeto de discussão para as próximas edições da premiação”, diz a nota.
Pessôa concorria ao prêmio com os ilustradores André Neves, Bruna Ximenes, Cris Eich, Daniel Kondo, Fayga Ostrower, Fran Matsumoto, Letícia Lopes, Odilon Moraes e Rogério Coelho — seu nome foi trocado pelo de Bruna Lubambo, ilustradora de O Centauro e a Aereia (editora Elo), no site do Prêmio Jabuti. Os cinco finalistas de cada categoria da premiação serão anunciados em 21 de novembro, e a cerimônia de entrega dos troféus será em 5 de dezembro, no Theatro Municipal de São Paulo e com transmissão on-line.
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