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Com ‘Torto Arado’, autor une prestígio literário e sucesso comercial

O romance transformou o geógrafo baiano Itamar Vieira Junior no nome do momento na área

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 abr 2021, 12h36 - Publicado em 16 abr 2021, 06h00

Itamar Vieira Junior tinha 16 anos quando, valendo-se de uma máquina de escrever presenteada pelo pai, imaginou a história de duas irmãs e a relação delas com a terra de onde tiravam seu sustento. A ideia bebia de uma paixão então recente: na escola, o jovem baiano fora introduzido aos romances regionalistas de Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Sem bagagem para fazer um livro, Vieira Junior engavetou a trama que já tinha até título: Torto Arado. Começava ali uma longa e peculiar trajetória na literatura brasileira.

Mais de duas décadas depois e hoje aos 41 anos, Vieira Junior e seu Torto Arado se tornaram um raro caso no Brasil de prestígio literário combinado a sucesso comercial. Vencedor de três honrarias editoriais — os prêmios LeYa, Jabuti e Oceanos —, o belíssimo romance de cores regionais ambientado no interior da Bahia explodiu em vendas em 2021, superando a marca de 130 000 exemplares vendidos. Em um país onde a literatura rende pouco ou quase nada aos autores, Vieira Junior comprou uma casa na orla da Praia de Itapuã, em Salvador, com o dinheiro ganho nos prêmios.

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Formado em geografia e doutor em antropologia, ele saiu da agitação de Salvador, em 2006, para se embrenhar no interior nordestino como analista no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Lá, percebeu que a realidade dos livros que lia na escola não fora superada. À mercê da sorte e da boa vontade da chuva, brasileiros em áreas rurais e quilombolas ainda encaravam a pobreza, a falta de moradias e de acesso à educação. Foi então que, inspirado por suas andanças, Vieira Junior ressuscitou o projeto da adolescência.

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Em Torto Arado, as irmãs protagonistas, Belonísia e Bibiana, são filhas de um dos muitos trabalhadores de Água Negra, uma fazenda na Chapada Diamantina. Sem cravar o período em que a história se passa, o autor transita pela realidade das pessoas que aram a terra sem salário, só pela chance de moradia em casas de barro e de cultivar roças no quintal. A obra expõe as marcas arraigadas da escravidão nos rincões brasileiros — as personagens vivem uma liberdade relativa, ainda tisnada pelo racismo. Mas, para além da carga social, é no talento com as palavras que Vieira Junior se revela um autor extraordinário. Com narrativa a um só tempo enxuta e poética, temperada pelo misticismo das heranças africana e indígena, Torto Arado cria uma ponte entre a tradição da literatura regionalista e temáticas caras ao país de hoje.

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INSPIRAÇÃO - A capa do livro e a foto original, do italiano Giovanni Marrozzini: a imagem virou moda nas redes -
INSPIRAÇÃO - A capa do livro e a foto original, do italiano Giovanni Marrozzini: a imagem virou moda nas redes – (./Reprodução)

Para o autor, uma das razões que levaram a obra a furar a bolha do nicho seria o interesse das novas gerações por um passado pouco falado nos livros de história. “O Brasil quer conhecer o Brasil”, diz ele. O fato é que, acima desse viés engajado, Torto Arado se impõe pela força intrínseca da história. E é um feito notável ter chegado aonde chegou. No Google, as buscas pelo livro saltaram 1 210% nos últimos doze meses. A popularidade é atestada de forma indisputável na lista de mais vendidos de VEJA: Vieira Junior se tornou o primeiro autor brasileiro estreante a conquistar o topo do ranking de ficção em uma década — posição ocupada costumeiramente por best-sellers internacionais ou medalhões como Chico Buarque.

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A seu favor, o baiano tinha não só um bom livro, mas também a desenvoltura nas redes sociais. Foi pelo Facebook que ele entrou em contato com o editor Leandro Sarmatz, da Todavia, que publicou Torto Arado no Brasil no fim de 2019. “Li de um dia para o outro e fiquei impressionado”, conta Sarmatz. Nos tempos de pandemia, Vieira Junior reforçou sua participação virtual em feiras literárias e nas onipresentes lives. No Instagram, celebridades como Lima Duarte e Camila Pitanga engrossaram os elogios públicos ao título. Resultado: Torto Arado foi citado mais de meio milhão de vezes na plataforma. A beleza da capa “instagramável” ajuda. É comum nas redes ver fotos de fãs que emulam a pose das mulheres na ilustração feita pela artista Linoca Souza — ela, por sua vez, se inspirou em um clássico ensaio fotográfico do italiano Giovanni Marrozzini, em Camarões.

Lançado primeiro em Portugal, em 2018, após levar o Prêmio LeYa, Torto Arado continua a cruzar fronteiras. Já nas livrarias da Itália, o livro em breve terá traduções em inglês, espanhol, alemão, francês, holandês e até eslovaco. Os direitos de uma adaptação para a TV foram adquiridos pelo diretor Heitor Dhalia. Celebrado como novo astro da literatura nacional, Vieira Junior não quer se deitar sobre seus louros: “Tenho os pés no chão. Escrever é um sonho, mas não dá para viver só disso”. Ele agora trabalha em uma sequência do que planeja ser uma trilogia. A próxima trama será ambientada no Recôncavo Baiano. Que a terra que esse arado rasgou ainda renda muitos frutos.

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Com reportagem de Tamara Nassif

Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734

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