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Com Gael García Bernal, ‘Neruda’ recria espírito do poeta chileno

'Nós quisemos fazer um filme nerudiano, tentando captar o que ele nos provoca, sem exatamente contar quem foi Pablo Neruda', disse o diretor ao apresentar o longa no Festival de Cannes

Por Mariane Morisawa, de Cannes
13 Maio 2016, 14h54

O anúncio de que o chileno Pablo Larraín faria um filme sobre seu conterrâneo, o poeta Pablo Neruda, causou certa estranheza. O diretor de Tony Manero (2008), Post Mortem (2010) e No (2012) – sua trilogia sobre a ditadura militar de Augusto Pinochet – e O Clube (2015), que aborda um grupo de padres escondidos pela Igreja Católica por má conduta, não parece ser do tipo que vai fazer algo tradicional. Não era preciso desconfiar tanto. Apesar do título, Neruda passa longe de ser uma biografia dentro da caixa. O filme abriu hoje a mostra paralela Quinzena dos Realizadores e foi exibido pela manhã para uma plateia lotada. “Para nós, Neruda é uma figura muito importante”, disse Larraín após a sessão. “Nós quisemos fazer um filme nerudiano, tentando captar o que ele nos provoca, sem exatamente contar quem foi Pablo Neruda”, completou.

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O filme se passa em 1948, quando Neruda (interpretado pelo excelente Luis Gnecco) era senador da República pelo Partido Comunista – ele tinha sido eleito em 1945. O presidente era Gabriel González Videla (vivido pelo ator preferido de Larraín, Alfredo Castro), eleito por uma coalizão de esquerda, que censurou a imprensa e começou a perseguir sindicalistas, operários e trabalhadores do campo. Conhecido como “poeta do amor”, nessa época Neruda estava cada vez mais ligado ao homem comum. Ele ataca o presidente, e Videla consegue cassar seu mandato e expedir uma ordem para prendê-lo. O encarregado é o chefe de polícia, Óscar Peluchonneau (Gael García Bernal, que trabalha pela segunda vez com o diretor depois de No). Neruda foge como pode, acompanhado em princípio de sua mulher, a artista argentina Delia del Carril (Mercedes Morán).

São meses nessa situação, até atravessar a fronteira pelos Andes, com ajuda de pessoas desconhecidas. Ele acaba se exilando em Paris, entre 1948 e 1952. Em 1970, renuncia à sua candidatura à presidência da República em benefício de Salvador Allende, derrubado três anos mais tarde por um golpe de Estado liderado pelo general Augusto Pinochet, que aparece brevemente em Neruda, como o chefe de um campo de concentração. O poeta morre alguns meses depois, em circunstâncias suspeitas.

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A relação entre Neruda e Peluchonneau aparece no filme como mais do que um simples jogo de gato e rato: há admiração por parte do policial com ares de Inspetor Clouseau e, em dado momento, vira algo entre criador e criatura. O longa mistura o jeito de filme noir – García Bernal encarna à perfeição o policial de produções do gênero – com uma atmosfera de sonho. “Ontem, Luis pegou o extrato do discurso de Pablo Neruda quando ganhou o Prêmio Nobel em 1971. Ele mesmo dizia que certas coisas não sabia se tinha escrito, pensado, ou sonhado”, disse Larraín.

Para o ator Luis Gnecco, essa era a única maneira possível de falar sobre o poeta. “Jamais um filme daria conta da vida inteira desse homem, sobretudo esse artista que vê na invenção de seu destino sua salvação e sua perpetuação. Mais que a história de Neruda, é a criação de um mito, um artista que cria um mito e dialoga com sua criação.” O resultado é uma obra fascinante, que procura refletir o universo e o espírito de Pablo Neruda em vez de apenas recriar seus passos.

Larraín também comentou sobre a época em que o filme se passa, quando muitos, como Pablo Neruda, acreditavam que o comunismo era a solução para os problemas do mundo, uma visão hoje ultrapassada. “São os tempos do modernismo, em que os sonhos eram muito claros, muito definidos. São sonhos muito grandes. O Chile era um país que sonhava. Hoje, não”, disse. “Mas acho interessante ter uma visão moderna sobre o que pensavam na época. Por exemplo, quando Neruda é questionado por uma faxineira se, quando o comunismo vencesse, todos iam ter a vida dele ou dela? O grande desafio da humanidade, talvez, é a igualdade. Neruda disse que só compreendeu a fraternidade, que é – ou era – uma palavra muito importante neste país, a França, ao cruzar o Chile para se exilar, porque foi ajudado por pessoas que não conhecia. E, hoje, a fraternidade é uma coisa em extinção.”

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