Colin Hay, do Men At Work: ‘O brasileiro é muito musical’
Músico australiano que é o único remanescente original da banda explica sua ligação com o país e fala do processo por plágio no hit Down Under
O Men At Work já fez vários shows no Brasil e até gravou um álbum ao vivo no país, em 1998. Agora, volta para mais três shows em fevereiro, no Rio, Curitiba e São Paulo. Qual é a razão do sucesso da banda entre os brasileiros? Suspeito que existam algumas semelhanças culturais entre Brasil e Austrália. Há grandes populações no litoral, que amam o oceano e a vida ao ar livre. O brasileiro é muito musical. E, claro, eu tenho um grande amor por futebol. Cresci na Escócia, assistindo ao Pelé jogar. Essa também é uma conexão muito forte para mim.
De alguma forma a música brasileira influenciou o som do Men At Work? Passei a me interessar mais por música brasileira depois que comecei a namorar minha esposa, a cantora peruana Cecilia Noël, em 2002, que hoje faz parte do Men At Work. Ela me mostrou muitas coisas que me influenciaram, especialmente a bossa nova e a música dos anos 1950 e 1960. Há ainda uma influência grande da música da América Latina. A backing vocal da banda é da Guatemala e o baixista, o baterista e o guitarrista são todos cubanos.
O senhor faz parte ainda da All-Starr Band, a banda de Ringo Starr, cujo repertório mescla hits dos Beatles com covers de outras bandas, como o próprio Men At Work. Como foi excursionar com um ex-beatle e ouvi-lo tocar suas músicas? É fantástico, surreal e jamais vou me acostumar. É um privilégio estar no mesmo palco que ele e olhar para trás e vê-lo na bateria tocando a minha música. Estou sempre aprendendo coisas novas. É como se eu ainda tivesse começando a minha carreira, aos 14 anos.
O Men At Work está na estrada há quase quarenta anos. Como repetir tanto as mesmas músicas sem enjoar? São grandes músicas, e por isso mesmo eu as toco sempre. Tenho sorte também porque não saio frequentemente em turnê com Men At Work. Por isso, só quero tocar essas músicas.
Sua nova versão para o maior hit do grupo, Down Under, sem a inconfundível linha de flauta, foi o modo que encontrou para lidar com a morte de Greg Ham, seu colega de banda, que entrou em depressão após condenação por plágio? Mudei a música para provar que, quando fomos processados, a linha de flauta não era tão importante para o reconhecimento geral da música. Mas isso já passou, agora tocamos Down Under ao vivo do jeito que foi composta.
Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878