Cannes: Vanessa Redgrave é mais ativismo que cinema em ‘Sea Sorrow’
A premiada atriz estreia como diretora aos 80 anos com documentário sobre a crise de refugiados
Frequentemente, atores se põem a dirigir filmes na esperança de virar um Clint Eastwood. Muitas vezes, é pela vontade de ter sua própria voz e contar sua história. Outras, por pura vaidade. No caso de Vanessa Redgrave, premiada atriz de teatro e vencedora do Oscar de coadjuvante por Júlia (1977), foi o ativismo político que a levou para trás das câmeras, aos 80 anos. Seu documentário Sea Sorrow (“tristeza no mar”, na tradução livre), cujo nome saiu de A Tempestade, de William Shakespeare, é exibido como sessão especial no 70º Festival de Cannes.
Redgrave decidiu agir ao ficar decepcionada com a reação do mundo em geral e do Reino Unido em particular à crise de refugiados, a maior desde a Segunda Guerra Mundial. Não faltam paralelos entre aquela época, quando diversos judeus foram salvos do Holocausto ao receber abrigo como refugiados e outros tantos tiveram sua entrada negada por alguns países, e hoje.
A atriz se lembra de ter sido levada para o interior quando Londres começou a ser bombardeada, e o Lorde Dubs, membro do Parlamento e nascido na então Tchecoslováquia, lembra como foi salvo graças ao Kindertransport – o transporte de crianças judias para fora dos territórios dominados pelos nazistas. Dubs foi uma criança desacompanhada, como tantas que atravessam fronteiras e são lançadas ao mar na esperança de que se salvem.
O documentário começa com depoimentos fortes de refugiados num convento italiano. Mas depois se perde em entrevistas com ativistas, entre os quais a própria diretora e membros da sua família. Não há dúvidas de que as intenções são boas e que o tema é mais do que urgente, mas, como filme, Sea Sorrow não se sustenta.