Bibi Perigosa é tudo, menos a mocinha
Difícil desassociar a personagem mais popular de "A Força do Querer" com o que está acontecendo na cidade onde a novela se passa
A Força do Querer, grande sucesso da Globo em um ano especialmente feliz para as novelas, tem oferecido espaço para boa parte do elenco brilhar. Da novata Carol Duarte, revelação como o trans Ivan, à estrela Maria Fernanda Cândido, as mulheres em especial ganharam destaque. Justiça seja feita, porém, às protagonistas: enquanto a Ritinha de Ísis Valverde segue dançando o carimbó no quarto, o jogo é decidido mesmo por Paolla Oliveira, como a policial Jeiza, e Juliana Paes, a Bibi Perigosa.
Olhando apenas para a TV, são duas mulheres lindas, em busca de amor, machucadas por decepções e – cada uma a seu modo – fortes. Mas como dissociar o comportamento das duas do que está acontecendo no Rio de Janeiro de hoje? Uma cidade que, surrada por corruptos e afetada violentamente pela crise econômica, sofre com a escalada do crime organizado, em meio a chuvas de balas perdidas e escolas fechadas?
Bibi Perigosa era uma mulher trabalhadora, como as vítimas do crime. A paixão pelo traficante Rubinho a levou a ser uma criminosa. Já pegou em armas e atirou na direção de Jeiza, já colocou fogo em um restaurante para destruir provas contra o namorado (causando prejuízo a um personagem que estendeu a mão ao casal em um momento de necessidade), já fez transações de drogas e armas e é, em resumo, cúmplice de tudo o que Rubinho faz de errado. A partir do capítulo deste sábado, tornou-se fugitiva e usa um nome falso.
Essas características, claro, tornam a personagem bem mais interessante que tantas moças água-com-açúcar dos folhetins. Só não dá para considerá-la uma heroína. Até, claro, que haja a redenção – e ela pague pelo que fez.